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Pedido de menino

Incoerência de Bolsonaro usa até mentira para Biden apoiar golpe

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Junior* - Foto de Arquivo

Muito pior do que um ser humano claudicante, inoperante ou despreparado é uma pessoa incoerente, cujo raciocínio e atitude são disparatados. Ou seja, conforme a etimologia da palavra, incoerente é quem não está bem ordenado, organizado e arrumado. No português mais lógico, são pessoas com comportamentos e ações sem lógica ou nexo. Pois é essa a imagem que os sensatos e esclarecidos têm do presidente da República. Como pode alguém com todos os neurônios em ordem assumir uma conduta tupiniquim como, tudo indica, assumiu nosso mandatário nos Estados Unidos? Como pode alguém viajar para uma reunião com pautas democráticas para pedir ajuda para impor um Estado tirano?

Conseguir a duras penas uma audiência privada com o líder da maior democracia do mundo para solicitar apoio contra um adversário político é, no mínimo, infantilidade de um cidadão que só se acha grande quando cercado pela tropa. Pior de tudo é que, conforme a agência noticiosa Bloomberg, o pedido teve argumentos mentirosos, entre eles o de que o principal opositor do atual presidente brasileiro representa um perigo para os interesses dos EUA. Interlocutor do capitão nessa hedionda solicitação, Joe Biden, ainda de acordo com a Bloomberg, mudou rapidamente o assunto. Entretanto, antes reiterou a importância de se preservar a integridade eleitoral do Brasil.

Pilhérias presidenciais à parte, vale registrar que, durante seu mandato, o ex-presidente acusado de conspirar contra os norte-americanos foi avaliado por Barack Obama, 44º. presidente dos EUA, como “o cara” (the man) com o “dom de se conectar com o povo brasileiro”. É claro que não foram só elogios. Obama também fez comentários negativos sobre as denúncias de corrupção no governo do “cara”. Nada que vinculasse Luiz Inácio ao apedeuta Donald Trump. Todavia, fez isso com o capitão. Pois bem, voltemos ao pedido de Jair Messias a Joe Biden, até bem pouco tempo inimigo número zero do governo brasileiro.

Na hipótese menos constrangedora – se houver – ficou muito feio para nós, brasileiros guerreiros e honrados. Pareceu coisa de menino mijado e sem forças para reagir. Se apresentar como o que há de melhor para as relações Brasil-EUA é imaginar Joe Biden como um beócio de quinta categoria. Preocupado exclusivamente com os interesses de Tio Sam, Trump chegou a comprar essa imagem. Pode ser que Biden repita 1964 e faça o mesmo, isto é, rife novamente a democracia. Não acredito. Os tempos são outros, o Brasil cresceu, mudou seu posicionamento no mundo globalizado e se consolidou como economia pujante.

Portanto, é improvável que haja novas sinalizações no sentido da tirania. Também devem contribuir para evitar qualquer pensamento simpático de Biden às teses do mito brasileiro as recentes manifestações de solidariedade à Rússia de Vladimir Putin e a defesa do anacrônico lema fascista “Deus, pátria e família”. Velho e matreiro político, Biden sabe muito bem que apostar somente na troca futura de interesses significa desacreditar na história que diz que tudo que está ruim tem espaço para piorar ainda mais. Concluindo a afirmação inicial de absurda incoerência governamental, Jair Messias disse ao homólogo norte-americano que assumiu o poder pelas via democráticas e assim sairá dele.

Puro engodo. Bastaram algumas horas após o encontro para ele voltar a condenar o sistema eleitoral, citar novas suspeitas de fraudes e novamente atacar o trabalho do Tribunal Superior Eleitoral e dos seus ministros. O que será que está acontecendo com o capitão? Medo da derrota ou, como diz um colega da imprensa brasiliense, trata-se apenas de um cidadão sem noção? Seja o que for, melhor Biden colocar de molho as barbas que não tem e torcer para Trump desaparecer na fumaça rica do Texas. Por aqui, poucos duvidam de que, apesar do slogan Deus acima de tudo, nossa divindade é capaz de fechar com o Diabo para se manter no poder. Tomara que não tenhamos necessidade de recorrer ao bordão novelista salve-se quem puder.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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