O peso das estações
‘Inverno ainda se desfará com a brisa em meu rosto e serei uma eterna primavera’
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Doeu.
Como um outono que nunca termina,
onde as folhas caem sem aviso,
e o vento carrega lembranças que não pedi.
Doeu porque plantei jardins no teu peito,
e em silêncio, vi as pétalas desbotarem,
antes mesmo de terem tempo de florescer.
Doeu porque você foi sol nos meus dias cinzentos,
e eu, sem perceber, confundi luz com permanência,
esquecendo que até o sol se põe sem despedida.
Doeu porque minha alma te escrevia em versos,
e cada linha que desenhei no papel do destino
se apagou antes que você aprendesse a ler.
Foi como segurar areia entre os dedos,
quanto mais tentei prender, mais escapou.
O que era certeza tornou-se eco,
o que era promessa dissolveu-se em adeus.
Mas agora me permito sentir,
aceito as noites que me pesam na pele,
permito que a saudade me toque sem medo,
pois sei que toda dor carrega um fim.
E amanhã, quando a brisa tocar meu rosto,
e o inverno dentro de mim se desfazer,
serei primavera sem teu nome,
serei poesia que renasce em silêncio.