As palavras doces
Já pensou como é gostoso abrir a janela e deixar o sol entrar sem pedir licença?
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Existe um lugar não no mapa, mas no íntimo
onde as palavras não são ditas, mas oferecidas,
como se fossem pequenas frutas maduras
colhidas com as mãos do coração.
Lá, cada frase nasce como quem canta para um passarinho,
sem intenção de convencer, apenas de acolher.
Nada é gritado, nem urgente.
O tempo ali se curva para ouvir melhor.
Dizer “você é importante” é como acender lamparinas
ao longo de uma ponte em noite escura.
Dizer “me perdoe” é dobrar o joelho diante do outro,
como quem rega a raiz do que ainda pode florir.
Há quem traga esse lugar dentro do peito
como um jardim secreto bordado de silêncio,
onde cada palavra repousa primeiro na alma
antes de tocar a boca.
Lá, a escuta tem perfume de lavanda,
e o silêncio não pesa ele respira,
como um abraço que não precisa de braços,
mas entende tudo, mesmo quieto.
Quando alguém diz algo doce sem esperar retorno,
é como abrir uma janela no inverno
e permitir que o sol entre sem pedir licença.
É ali que a vida reaprende a amar.
Não há cercas nessa casa de ternura,
mas há raízes que se entrelaçam nos gestos.
E quem fala com gentileza planta florestas
que os olhos não veem, mas o espírito reconhece.
E quando o mundo ruge demais,
quando tudo parece duro e distante,
uma única palavra doce
é capaz de abrir caminho no concreto
e florescer entre os escombros.
