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A prisioneira

Livre tardiamente do filho algoz, viúva descobre que amor à distância não vale

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Autor/Imagem:
Cadu Matos - Foto Francisco Filipino

Era uma vez uma certa senhora de uns 58 anos que achava um certo senhor atraente e sedutor. Ele era contista e ela adorava ler os textos que ele escrevia, especialmente os eróticos, chegava a ficar excitada. Mas o filho dela a vigiava feito um cão feroz. Ele a impedia de estudar, de frequentar academia – vai que o trainer passava a mão no traseiro da mãe? –, fazia o possível para asfixiá-la, para tornar a vida dela pobre, pobre, pobre, de marré, marré, marré.

– Você é viúva, tem de viver só pra mim, minha esposa e meu filho – repetia sempre. E mesmo assim… Se ela estivesse muito sorridente ou alegre, brincando com o neto, ele pensava, “Aquela vaca tá pensando em macho”, xingava a mãe, dava-lhe um safanão e a punha de castigo, sem jantar.

Sozinha no quarto – que ela chamava de cela da tortura –, ela fechava os olhos, para sonhar com o contista. Em geral chorava um pouco, mas depois sorria e repetia para si mesma:

– Quando eu crescer…não, quando eu crescer não, um dia desses vou ser livre!

Um dia, os deuses sorriram pra ela: o filho-carcereiro teve um infarto, bateu as botas, e ela passou o resto de sua vida livre, leve e solta, trocando beijinhos – que pena, só de longe, ele morava em Manaus e ela, em Porto Alegre – com o seu contista.

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