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Lá vem ele

Lula, cauteloso, prepara gol de placa para a geral

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José Seabra - Foto José Cruz

Quem conhece Lula há pouco tempo, já descobriu que o presidente não é bobo. Quem o conhece há mais de quatro décadas, tem certeza de que Luiz Inácio não nasceu ontem; que hoje ele é um homem astuto, no sentido de não se deixar enganar. É justamente o pessoal que conviveu com o ex-sindicalista que entende que Lula, mais experiente do que aquele ‘paz e amor’ dos primeiros mandatos, virou um mestre no xadrez político.

Lula sabe, portanto, que para aprovar a pauta econômica no Congresso Nacional ainda no primeiro semestre, vai precisar de apoio interno e externo. A tradução literal de apoio externo é China e União Europeia, via novos investimentos e acordos comerciais. Um possível cessar fogo na guerra da Ucrânia, mesmo difícil de acontecer a curto prazo, poderia fortalecer ainda mais sua posição no contexto internacional. O presidente tem conhecimento, porém, que não pode depender disso. Mas torce para que aconteça.

A questão interna é mais complexa, apesar de menos conflitante. O Centrão ainda não descobriu como mandar no governo e não sabe o que fazer com o naco de poder que recebeu. Pode ser que perca espaço nas próximas semanas, abrindo terreno para outros grupos menores que sabem o que fazer com cargos e bem investir as verbas.

A militância do PT acompanha esse xadrez esperando ser convocada para as ruas. Se precisar, ela vai. Lula acaba de assinar o piso salarial da enfermagem, beneficiando em uma só canetada cerca de 2 milhões de trabalhadores e trabalhadoras da área da saúde. Sabe, portanto, que também poderá contar com esse exército, muito mais fiel que o original.

Nesse tabuleiro, movimentando bem os peões e deixando cavalos e bispos de lado, Lula saberá fazer afagos ao MST e, por extensão, à toda a classe assalariada. A reforma agrária vem logo, como vem, já no próximo 1º de Maio, mais benesses para os trabalhadores.

Coerente e dentro de uma lógica compartilhada com seus assessores mais próximos – muitos dos quais informais, de quem ouve conselhos sem alarde – o presidente está consciente de que a oposição vai tentar inviabilizar o seu governo na saída (aqui entendido o primeiro ano do mandato), pois Lula e PT são imbatíveis no meio e na chegada. Tanto é assim, que o Palácio do Planalto espera ver o apoio ao governo crescer nas próximas pesquisas de opinião, o que também aumentaria seu poder de negociação no Congresso.

A aposta é a de que a CPI dos golpistas de 8 de janeiro deve virar um tiro no pé dos bolsonaristas. Porém, ainda assim, antes de chegar ao casal destronado do Alvorada, o andar das investigações pode atrapalhar as votações no Congresso. Por isso tudo, Lula vai precisar de um pouco de sorte para votar o arcabouço e a reforma tributária na Câmara, ainda no primeiro semestre.

Como é do conhecimento geral de que todo goleiro bom tem sorte, é justamente por isso que Lula hoje joga mais atrás do que no ataque. Logo, porém – e o presidente tem plena consciência disso – ele terá a assistência necessária para fazer gol de placa e levantar a torcida na arquibancada.

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