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Eleição é guerra

Lula precisa ir para cima dos grandes, caso queira manter o poder

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Autor/Imagem:
Antonio Eustáquio Ribeiro - Foto Editoria de Artes/IA

Rede Globo, Record, SBT, Folha de São Paulo, O Globo, O Estado de São Paulo, Valor Econômico… são todas empresas da mídia dominante brasileira. Porém, mais do que isso e de diversas outras coisas em comum, o que sobressai e as coloca no mesmo patamar é o fato de todas serem propriedades de milionários e de defenderem o interesse do povo rico do país, que representa menos de 1% da população brasileira, embora na defesa desta expressiva minoria se refere a ela como sendo o “povo brasileiro”.

Exemplo concreto e recente disto é a abordagem sobre a questão do IOF, cuja alteração proposta pelo governo atingiria prioritariamente este público. Ninguém viu, ouviu ou leu na grande mídia alguma opinião de economista ligado a algum sindicato, à CUT ou Força Sindical ou a alguma universidade opinando sobre o assunto. Sempre se vê, se ouve e se lê as opiniões de economistas do mercado financeiro e de instituições que defendem o interesse deste povo rico, como FGV ou Insper.

Daí a opinião ser sempre a mesma: elevar o IOF é aumentar imposto. O governo tem é de cortar gastos tais como desvincular os benefícios previdenciários do salário mínimo, o governo tem é de congelar gastos com educação e saúde, o governo tem é de reformar a previdência, o governo tem é de acabar com aumento real do salário mínimo, e por aí vai, sempre relacionado a recursos que são direcionados aos mais pobres, aos mais necessitados, à classe média, ou seja, a quem mais precisa de políticas públicas.

Alguém vê, lê ou ouve em algum destes veículos alguma proposta de que o governo precisa cortar isenções fiscais de empresários, que os parlamentares deveriam diminuir suas emendas particulares, que o governo deveria elevar a alíquota do imposto de renda dos ricos que pagam o mesmo percentual de uma professora, de um servidor público, de uma bancária, de um militar??? Não vê, não ouve e não lê, nem verá, nem ouvirá e nem lerá. Simples, porque esta discussão trata da disputa distributiva quanto aos recursos do orçamento da união, dos recursos arrecadados pelo governo.

Esta disputa se trava no parlamento, que deveria representar o povo brasileiro. Porém, em face de um sistema político que privilegia o poder econômico, o 1% rico da população brasileira que abocanha 80% da renda do país é super-representado. Dos 594 parlamentares federais (513 deputados e 81 senadores), quase 300 são empresários e uns 250 são grandes produtores rurais (pode haver um parlamentar nos dois segmentos), e há diversos que mesmo não sendo parte dos ricos do país, são por eles financiados para trabalharem em seu favor.

Assim, é mais do que lógico ter um parlamento que derrota o governo quando este tenta alguma medida para cobrar mais do “andar superior” da sociedade. Simples assim entender a derrota do IOF.

O presidente Lula tem como uma de suas mais marcantes características políticas a capacidade negocial e a incessante busca de conciliação. Porém, com um parlamento que trai à socapa e convoca uma reunião por videoconferência na véspera de um feriado para votar matéria tão sensível quanto a do IOF, não dá mais para tentar entendimento a qualquer custo.

Com a medida tomada pelo Congresso em favor dos ricos, o governo tem nas mãos a grande chance de fazer um debate real com a sociedade, em particular com 80% dela cuja renda mensal per capta pouco ultrapassa os R$2.000,00. O presidente Lula, o governo como um todo, os parlamentares progressistas, o movimento social e sindical, precisam intensificar a campanha corretamente denominada tributar os BBB – bancos, bets e bilionários. Estes sujeitos jurídicos têm por trás de si sujeitos físicos que se enquadram no seletíssimo grupo de ultra ricos que quase nada pagam de imposto no Brasil. Mas tem um parlamento à sua medida, que evita a todo custo apreciar matérias que os atingem.

Óbvio que a grande mídia, porta voz dos ricos, traz sua narrativa dizendo que o governo quer criar um movimento “nós contra eles” como se fosse uma briga entre iguais. Eles, os ricos, é que há mais de 500 anos de história do país alimentam o movimento “tudo para nós, nada para eles”. É chegado o momento de distribuir melhor a carga tributária, e iniciar um processo de justiça fiscal no Brasil. O parlamento precisa sentir e entender que o povo brasileiro, não o povo da grande mídia, dos jatinhos, iates e mansões, mas o povo que “mata um leão por dia” para viver e sobreviver se beneficia das propostas de justiça fiscal em pauta naquela casa.

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Antonio Eustáquio, correspondente de Notibras na Europa, nem por isso deixa de acompanhar o momento político brasileiro

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