O café maldito
Maldição de cigana faz Álcio, delegada e perito beberem chá de camomila
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Na noite anterior à tragédia, Álcio já estava sentindo que o destino estava contra ele.
Ao voltar para casa, cruzou o caminho de uma cigana misteriosa, que tentava ler sua sorte em troca de algumas moedas. Mas Álcio, cético e ranzinza, recusou rudemente:
— “Besteira, minha senhora. Essas coisas não existem!”
A cigana fixou nele um olhar profundo, seus dedos enrugados girando as moedas em sua mão. Com voz cavernosa, rogou uma maldição:
— “Então, que a voz dos espíritos te chame pelo nome, e que o rosto do destino se coloque sobre sua cabeça!”
Álcio riu e seguiu seu caminho, certo de que nada aconteceria. Ele estava errado.
Mais tarde, enquanto preparava um café e após ter assistido um filme sobre a maldição de uma cigana e se lembrar daquela que o havia rogado uma praga, o impossível aconteceu.
A cafeteira chiou e assobiou, mas não era um chiado qualquer.
— “Ááááálcioooo…”
O nome dele. A cafeteira estava chamando seu nome!
Álcio sentiu um arrepio na espinha. O coração disparou. Um suor frio escorreu por sua testa.
Foi então que, tomado pelo pânico, ele cometeu o maior erro de sua vida.
Abriu a cafeteira sob pressão máxima.
E então…
BOOOOOOOM!
Caos uniformizado
Na manhã seguinte, a delegada Dra. VIP chegou nervosa, com um crucifixo no pescoço e segurando um terço no bolso do terno, pronta para qualquer manifestação do além.
Dr. Copperfield, perito criminal e apreciador de pegadinhas, entrou logo atrás, com sua maleta e um olhar de quem já planejava zoar alguém.
Álcio, ainda em choque, segurava uma xícara vazia e repetia, trêmulo:
— “A cafeteira me chamou pelo nome!”
VIP empalideceu.
— “Isso tá parecendo coisa de encosto.”
Copperfield, que já estava segurando o riso, apenas analisava o teto, onde o café explodido havia formado uma imagem sinistra.
— “Uau. Isso está artisticamente macabro.”
VIP apertou os olhos para enxergar melhor. Sim. Olhos. Nariz. Um sorriso torto.
— “Pronto! Tá vendo?! Isso não é normal! Isso é coisa do além” — disse VIP, segurando o terço com mais força.
Copperfield pigarreou.
— “Antes de considerarmos o sobrenatural, que tal analisarmos as evidências?”
VIP cruzou os braços.
— “Se o liquidificador me chamar pelo nome, eu saio daqui gritando, Copperfield!”
Ele apenas sorriu e continuou.
Mistério do “Áálciooo”
Copperfield apontou para o que restou da cafeteira no chão.
— “Este era um exemplar de uma Moka italiana. Modelo clássico. Perfeito para um bom café… e para transformar cozinhas em zonas de guerra.”
Ele levantou três dedos:
1. A válvula de segurança estava entupida.
* sem escape de vapor, a pressão dentro da cafeteira aumentou drasticamente.
2. Álcio esqueceu a cafeteira no fogo.
* O tempo passou, a água evaporou, o café queimou e começou a carbonizar.
3. Ele abriu a tampa NA HORA ERRADA.
* quando a tampa foi girada, a diferença de pressão foi instantânea, causando um fenômeno chamado flash evaporation.
VIP franziu a testa.
— “Flash evaporation?”
Copperfield sorriu, adorava explicar.
— “Quando um líquido superaquecido sofre uma queda brusca de pressão, ele vira vapor INSTANTANEAMENTE, expandindo até 1.700 vezes o volume original. A água dentro da cafeteira se transformou em vapor explosivo, e… BOOM!”
VIP olhou para Álcio.
— “Parabéns. Você praticamente abriu um vulcão dentro da sua cozinha.”
Álcio engoliu em seco.
— “Mas… e o som? E a voz me chamando?”
Copperfield segurou a risada e continuou:
— “A pressão extrema da cafeteira criou um chiado intenso e irregular. Dependendo da estrutura da válvula e do vapor escapando pelas frestas, o som pode parecer um lamento… ou até um nome.”
VIP estreitou os olhos.
— “Onde você quer chegar?”
Copperfield sorriu.
Ele fez um pequeno sibilo com a boca, imitando o som de vapor:
— “Ááááálciooooooo…”
VIP piscou algumas vezes.
— “Filho da mãe.”
Álcio boquiaberto murmurou:
— “Então… então foi SÓ um chiado??!!”
Copperfield consentiu com a cabeça e um sorriso contido.
— “A mente humana gosta de preencher lacunas, meu caro. Você já estava sugestionado pela cigana. Quando ouviu um ruído parecido com seu nome, o cérebro fez o resto do trabalho.”
VIP revirou os olhos, já se sentindo uma idiota por ter acreditado no sobrenatural.
Mas aí, aconteceu.
— “Viiiiiiiipppp… Viiiiiiiippp…”
O som sibilante e grave veio do nada, ecoando pela cozinha como um chamado do além.
VIP deu um pulo e sacou a arma.
— “QUEM TÁ FALANDO?!”
Álcio gritou e se escondeu atrás da mesa tombada.
Copperfield, segurando a risada, tirou discretamente o celular do bolso.
— “Ops… esqueci de desligar meu despertador.”
VIP olhou para ele furiosa.
— “Você TÁ DE BRINCADEIRA?!”
Copperfield gargalhou.
— “Ah, delegada… eu configurei um alerta de notificação para o meu celular dizendo ‘Viiiiipppp… Viiiiiippppp’ com efeito de eco!”
Álcio olhou para ele boquiaberto.
— “Você é um demônio disfarçado, cara!”
VIP esfregou a testa, respirando fundo para não bater no perito.
Ela anotou no relatório:
Causa da explosão:
• Falha mecânica
• Superaquecimento
• Pressão excessiva
• Sugestão psicológica e pavor infundado
❓ Pegadinha de Copperfield – providências futuras necessárias (talvez corregedoria?)
Ela fechou o bloco de notas e olhou para Copperfield.
— “Vamos tomar café?”
Ele olhou para os estilhaços da cafeteira, depois para a mancha no teto, e murmurou:
— “Na dúvida… hoje eu vou de chá.”
E foi assim que, pela primeira vez na vida, Copperfield bebeu camomila.