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Manipulador não decola

Mentir e empurrar os próprios erros com a barriga é covardia

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo

Quando há ausência de propostas para recolocar o país nos trilhos e se tem convicção de que o fim está próximo, o melhor a fazer é retirar os trilhos e, de longe, assistir ao descarrilamento total da composição. A frase parece escrita para um roteiro de filme produzido por malucos, estrelado por um lunático e destinado a uma plateia de sádicos fanatizados por fariseus acostumados a bostejar porcarias por onde passam. Apesar do absurdo, o filme é real, os personagens estão espalhados por todos os cantos do país, inclusive no Congresso Nacional, e deve ser lançado em breve por meio da campanha eleitoral gratuita no rádio e na TV. O enunciado é meu, mas, infelizmente, faz parte de uma tese que tem ocupado as mentes vazias da maioria dos apoiadores de Jair Bolsonaro, inclusive do próprio.

Como tenho bom senso e um mínimo de inteligência, não posso chamar isso de argumento, cujos sinônimos são numerosos. Um deles é o vocábulo tática. Também está longe disso, pois táticas significam confiança na vitória, conhecimento do terreno em que pisam, sabedoria a respeito das consequências do que dizem e, o que é mais relevante, a certeza de que o outro sofre com a falta de pessoas ou grupos prontos para corrigir as asneiras que escorrem do útero retrovertido do povo que se acha acima do bem e que, pública e reservadamente, torce pela desgraça do Brasil. Não é o caso. Portanto, é preciso alertá-los de que o disgrama já está entre nós. E quer continuar. Também conhecida por desventura e desdita, ela tem nome, sobrenome e até apelido: presidente da República.

Terrível não ter ideias, pois passam a disseminar as fakes, as quais deixaram de ser news porque fazem parte do DNA da discurseira barata do candidato do conservadorismo cruel desde 2018. Pior é que elas (as fakes) estão nas primeiras, segundas e últimas páginas das tabuadas e cartilhas distribuídas pelos extremistas do horror. Por exemplo, o deputado pastor fundamentalista Marco Feliciano (PL-SP), um desses que não sabem o que dizem, insiste em afirmar que, caso eleito, Lula da Silva vai fechar as igrejas evangélicas. Ele sabe que é uma mentira deslavada. Entretanto, é a única fórmula de que dispõe para fazer política. O que ele não diz, mas a maioria dos brasileiros já percebeu, é que, dando o 13 contra o 22, a mamata vai acabar. E agora, José? O que responder a Feliciano? Nada. Apenas que ele seja Feliciano e que tenha coragem de mostrar em sua igreja do que já foi capaz.

Ele não roubou, tampouco matou, mas em 2019, a título de reembolso, recebeu da Câmara dos Deputados R$ 157 mil referente a um tratamento odontológico. Justificou afirmando que, como político e pregador, a boca é sua ferramenta de trabalho. Tudo bem, mas é maluquice pensar que eu e os demais brasileiros somos obrigados a bancar suas coroas e implantes para controle do bruxismo. Não somos, mas ele entende que sim. Tanto que, na época, reagiu furibundo à divulgação da aberração parlamentar. E não foi fake, mas fato concreto. Está nos anais da Casa. Fala sério, deputado. Votem no Bolsonaro e ganhem a eleição no voto. Esqueçam a sacanagem. Deixem o povo escolher em paz. Não criem factoides. Parem de acusar os adversários de mentir. Vocês é que mentem para tentar confundir.

Radicalizam, rasgam a Constituição, desobedecem leis sem dó nem piedade e não têm pudor em dizer que a culpa é do petismo. Pois saibam que a estratégia minguou, não funciona mais. Os números não mentem. Claro que, lá atrás, a esquerda não fez diferente. O problema é que a direita foi eleita para corrigir erros do passado. Está fazendo muito pior. Quebram regras, aprovam pacotes de bondades, alcunhados de Auxílio Brasil, Vale Gás e Vale Caminhoneiro, mas não conseguem decolar como sonham. O eleitor não é mais besta. Podem até conseguir mais votos do que esperavam, mas daí a cantarolar como se a eleição estivesse ganha vai uma grande distância. É esperar para ver. Faltam 46 dias para a abertura das urnas que eles criticam somente por falta do que falar. Todo o Palácio do Planalto e o entorno têm certeza de que elas são seguras.

Quanto à necessidade de culpar adversários, a razão é simples. A máxima do manipulador é tentar responsabilizar os outros por seu estado, geralmente uma insatisfação. Transformemos isso em algo macro. Se aceitamos essa responsabilidade, a tendência é que façamos qualquer coisa para melhorar a situação do outro. É o que querem o presidente e seus gestores de campanha. Para eles, é muito mais fácil culpar os outros. Esquecem que, ao não admitir os erros do passado e do presente, estão condenados a repeti-los. Não há dúvida de que culpar os outros pelos nossos fracassos é uma covardia. E o ápice da covardia é culpar os outros por aquilo que não fizemos e poderíamos ter feito. É apontar o erro na tentativa de livrar-se da culpa. Na melhor das hipóteses, é a forma mais simples de demonstrar que não tem coragem suficiente para assumir os próprios erros. Se você é assim, está na hora de mudar. No Brasil de hoje, não basta ser corajoso. É preciso parecer corajoso. Sem bravatas e sem baionetas, é claro.

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