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Mudanças em curso

Mundo da moda vive o drama do novo coronavírus

Publicado

Autor/Imagem:
Carolina Paiva, Edição

A pandemia provocada pelo novo coronavírus também virou o mundo da moda de ponta-cabeça e tem transformado profundamente o setor, que andava a passos largos e em constante crescimento. Desfiles cancelados mundo afora e muitas portas fechadas, lançamentos de coleções inteiras adiados, marcas pararam suas produções e passaram a fabricar máscaras de proteção.

Esse ineditismo na indústria representa um catalisador da mudança: a Covid-19 vai forçar-nos a rever valores e mudar hábitos enquanto sociedade. Há um reset, uma espécie de um divisor de águas capaz de provocar mudanças profundas, principalmente, no comportamento das pessoas no que tange ao consumo de moda, um novo olhar mais atento e crítico em relação a tendências, marcas e atitude.

A pandemia antecipa mudanças que já estavam em curso, como o trabalho remoto, a educação a distância, a busca por sustentabilidade e a cobrança, por parte da sociedade, para que as empresas sejam mais responsáveis do ponto de vista social. Em relação à moda, a compra por impulso, a procura por marcas internacionais, a ostentação desmedida e a busca pelo consumo hedonista como fonte de prazer e felicidade serão fortemente revistos. No entanto, algumas tendências começam a se delinear num novo mundo pós-coronavírus.

Segundo Isabella Fiorentino – modelo, consultora de estilo e apresentadora –, as pessoas estão expandindo sua consciência e perceberam que não precisam de tudo o que têm no guarda-roupa; chegou a hora de tirar o ‘supérfluo’. Isabella acredita que o desejo de moda sempre existirá, mas as pessoas poderão ter acesso à moda sem possuí-la. Por exemplo, o mercado de aluguel (Rent the runway) está crescendo muito! “Pessoas alugam peças da passarela e, se gostarem, têm opção de compra-las”, explica ela.

Isabella reforça, ainda, outra tendência que já é uma realidade: os brechós ganham peças icônicas, muitas vezes usadas apenas uma única vez. “O guarda-roupa compartilhado em redes sociais também vem forte. O patriotismo vai falar mais alto na hora da compra: marcas nacionais serão fortemente apoiadas pelos seus clientes. E o calendário de lançamentos será revisto, ganhando um modelo mais sustentável e tendo menos coleções anuais. Ganhamos todos: mais qualidade e mais sustentabilidade”, complementa a apresentadora.

Silvia Braz – influenciadora, formada em direito –, acredita que é hora de rever valores, buscar a essência das marcas e se conectar de forma verdadeira com o consumidor. “Na hora de comunicar uma coleção, acredito também numa maior responsabilidade da marca de escolher a mídia que irá fazê-lo!”. Silvia alerta ainda para a questão da transparência de valores: os valores devem ser compatíveis entre mídia (influenciadores, revistas e sites) e a marca. “Acredito que se essa combinação de valores não acontecer, em algum momento, esse trabalho pode sair de controle e gerar um efeito ruim para ambas as partes.”

É sabido que o setor de moda é muito vulnerável à crise. Aqui, outra tendência começa a aparecer, que é a do ‘menos é mais’. Os hábitos de consumo serão revistos, não só pela falta de dinheiro e maior senso de economia, mas também porque as pessoas aprenderam que o isolamento social ‘não exigiu’ qualquer vaidade de moda, uma vez que estamos todos em casa.

Para Silvia Braz, “quando olhamos para trás e analisamos o comportamento humano pós situações disruptivas, como a que estamos vivendo, ainda não é certo o caminho que tomaremos pós-coronavírus. O que já está muito claro para mim em relação aos hábitos de consumo neste momento é uma maior preocupação com os valores de uma determinada marca – eles vão ter de estar muito claros – e os cuidados que ela tem em toda cadeia produtiva. A partir de agora, isso será imprescindível para uma marca ser relevante. Além de uma direção para um consumo mais consciente, que implica em menos peças e mais qualidade para que sejam duradouros.”

Já na visão de Isabella Fiorentino, “antes de tudo, é importante as pessoas entenderem que elas não precisam gostar de moda, elas precisam entender a importância social da moda. Temos que ter um respeito muito grande por esse setor que emprega quase 10 milhões de pessoas; é o setor que mais emprega mulheres no mundo. Mas, temos sim de cobrar transparência e sustentabilidade da cadeia produtiva. Quem não se adequar a isso, vai vender apenas roupa sem significado. E isso é um perigo, porque o consumidor está mais consciente”, afirma a modelo.

Isabella acredita ainda que a mudança de hábito será imediata! Compras online já cresceram absurdamente, uma vez que faz com que as pessoas se sintam mais seguras por não terem de sair de casa. “Acho que outro ponto marcante será a impossibilidade de marcas permitirem que seus clientes provem roupas antes de comprá-las. E para realizar trocas, as peças terão que permanecer em quarentena por 72 horas, antes de voltarem para as araras.”

A crise sanitária sem precedentes na nossa história será marcada pelo uso de acessórios e um senso de proteção muito forte: máscaras, luvas e viseiras chegaram para ficar! Mas, mais que simples acessórios de moda, serão “indicadores de cidadania e respeito ao próximo”, afirma Isabella.

Menos tendência e mais identidade  indicam que uma moda mais descomplicada e sem afetação será uma das principais tendências que vão emergir no período pós-pandemia. Calças de moletom, chinelos e ‘look pijama’ são forte candidatos a invadirem as ruas. O casual e o relaxed fit estarão em alta. Sinais de novos tempos, onde a corrida pelo bem-estar será uma realidade, assim como a atitude de gerar um impacto positivo nas pessoas e na sociedade, mobilizar multidões não apenas para consumir, mas para engajar-se em temas relevantes e prioritários serão o novo hit fashion.

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