Curta nossa página


Agendas diferentes

Mundo pega fogo lá fora, e o Brasil discute cores do governo

Publicado

Autor/Imagem:
Marc Arnoldi

Poucas vezes o mundo entrou num ano novo (pelo menos os que seguem o calendário ocidental) com pautas, discussões e preocupações tão diferentes entre continentes e países. O 2019 que agora se inicia inspira otimismo em poucos lugares, cautela em muitos outros, e até perplexidade em alguns casos.

Nos Estados Unidos, Donald Trump entra na segunda metade do mandato com uma Câmara dos Representantes (nossa Câmara dos Deputados) nas mãos dos Democratas, oposicionistas. Poderão perturbar, mas como o Senado ficou com os Republicanos, os danos e empecilhos serão limitados.

Na verdade, a atual paralisia orçamentária de Tio Sam vem não da oposição, mas sim da ideia fixa do Presidente com seu muro na fronteira mexicana.

Na Europa como um todo, as eleições ao parlamento de Estrasburgo, em maio, preocupam em vários países, que nos últimos anos ou meses tomaram a direção do populismo. A crise migratória perdeu força, e os que chegaram ao Poder na crista da onda mudam o alvo dos discursos contra a burocracia, a ineficiência e a falta de democracia da União Europeia. O sistema eleitoral sendo proporcional, há o risco de entendimento das bancadas nacionalistas respectivas para formar um grupo importante no Legislativo comum.

E cada país do Velho Continente tem também suas preocupações locais. Emmanuel Macron, na França, ainda não conseguiu erradicar completamente as protestações populares dos tais “coletes amarelos”, apesar de, de um lado, recuar nas medidas que fizeram os rurais e peri-urbanos descer às ruas; de outro, multiplicar as prisões dos “agitadores”.

Na Itália, o orçamento do Governo antissistema oriundo da coligação Liga (direita) e Movimento 5 Estrelas (começou como movimento social, virou partido com bandeiras de esquerda) que prevê mais gastos públicos com menos impostos, está fora de todas as regras fiscais europeias.

No Reino Unido, a saída efetiva da União Europeia após o referendo de 2016 se dará no último dia de março deste ano. Os ingleses, que sempre tiveram pelo menos um salto fora da Europa (não aderiam ao Euro), correm contra o relógio para arrumar um acordo com a União. O comércio será de toda sorte afetado, Londres perderá força como polo financeiro, os produtos made in Britain poderão ser taxados e até mesmo as velhas feridas riscam ser reabertas: com o UK fora da União, a ilha irlandesa passará de novo a ter uma fronteira terrestre formal, entre a Irlanda do Norte britânica, e a República da Irlanda europeia.

Os europeus não iniciam o novo ano com otimismo. As mudanças climáticas, a degradação do meio-ambiente, o futuro do planeta é tema recorrente. Alemanha e França já fizeram as continhas: o ano de 2018 foi o que teve a maior temperatura média desde as primeiras compilações de dados, no início do Século XX. De reunião em reunião, os governos continuam tomando boas resoluções, que não são aplicadas na prática. Ou com efeito insuficiente. O findo 2018 também terá o ano recorde de soltar CO2 na atmosfera.

Diante desse desafio que deveria unir todos para a própria sobrevivência, a classe política encontrou um tema de divergência. Há os “climatocéticos”, que colocam em dúvida as previsões catastróficas e traçam cenários mais amenos, e os ecologistas radicais, agora reforçados por grupos de extrema-esquerda que declaram o capitalismo culpado, e só veem uma solução num outro sistema, ainda a definir, mas que tem mais vermelho que verde.

Cada um com seus problemas. No Brasil, as atenções vão continuar focadas no início dos governos, particularmente do Governo Federal, é claro. Aquecimento global, Brexit, continuação da expansão comercial chinesa, aviões militares russos na Venezuela não importam, a “grande mídia” brasileira só quer questionar a mudança de cor das cadeiras da Casa Civil.

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2024 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência Estadão, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.