Abandonados por Lula
Na luta por moradia digna, nordestino vai levando com casas de taipa hereditárias
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Na beira do sertão, entre o barro e a esperança, levantam-se as casas de taipa como testemunhas silenciosas de uma luta antiga: o direito a morar com dignidade.
Dona Zefinha, cabelos brancos como algodão e mãos calejadas pelo tempo, vive há mais de cinquenta anos na mesma casa. A parede, feita de barro e madeira entrelaçada, já viu muitos invernos e resistiu a mais outros tantos.
“Foi meu pai quem levantou essas paredes. Aqui criei meus filhos e enterrei meu marido”, conta ela, com a voz mansa de quem aprendeu a conviver com o pouco.
Mas o tempo, como sempre, cobra seu preço. O barro racha, a madeira apodrece, e a chuva, cada vez mais incerta, ameaça o que resta. Ainda assim, as casas de taipa resistem, assim como seus moradores. Resistência não por escolha, mas por falta dela.
Enquanto as promessas políticas chegam em palanques e partem com as urnas, a população espera por reformas que nunca vêm. Falam em progresso, mas esquecem de olhar para dentro das casas onde o chão é de terra batida e o teto é uma loteria a cada temporal.
E, no entanto, ali pulsa vida. Crianças correm descalças, panelas fumegam com feijão temperado, e a vizinhança ainda se encontra na calçada ao cair da tarde. É uma dignidade silenciosa, mas que clama por atenção.
Porque moradia digna não é luxo — é direito. E enquanto houver taipa sustentando vidas, haverá também a necessidade urgente de políticas públicas que reconheçam o valor dessas pessoas. Não apenas com tijolo e cimento, mas com respeito e presença.
