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Ladainha do absurdo

Negacionismo não se esgota com derrota bolsonarista

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo

Depois das urnas eletrônicas, agora são as pesquisas que incomodam os bolsominions mais radicais. Aliás, falar de radicalismo envolvendo esse povo é, além de redundância, chover no molhado, isto é, não acrescentar nenhum dado novo ao que já foi dito e repetido à exaustão. Faz parte do DNA do líder do cercadinho martelar contra as boas práticas e, principalmente, se contrapor ao que é bom para a sociedade. Copiado pela turma do quanto pior melhor, esse perfil desagregador tende a se perpetuar, ainda que as urnas virem as costas para o comandante dos liberais de araque. Vale ratificar que a marca registrada do presidente da República e de seus mais fanáticos seguidores não se esgota em caso de derrota definitiva no próximo dia 30, segundo turno da eleição iniciada em 2 de outubro.

Com todo respeito aos bolsonaristas mais sensatos – se é que eles existem -, mas a ladainha negacionista permanecerá entre nós como as feridas da infância ou da adolescência. Elas curam, secam, cicatrizam, mas suas marcas jamais serão esquecidas. São palavras e ações tão estupidamente explícitas que acabam ecoando em nossas mentes como mantras do absurdo. Por exemplo, para boa parte dos apoiadores dos ensinamentos dos líderes da extrema-direita, os pobres devem ser ajudados somente como eleitores coitadinhos e nada além do período eleitoral. Eles partem do pressuposto de que pobre é pobre por merecimento. Coisas dos terrivelmente acometidos pela inépcia religiosa e política. É a seita do abuso social.

Infelizmente, nada desta narrativa é exagero. Por ordem do mito de barro, é comum recebermos do gado aconselhamentos do tipo compre uma arma, eduque sem escola, coma veneno, cace animais, corte árvores, mate minorias, converta-se à Igreja Universal ou similares e viva sem arte. Mais interessante é receber asneiras como essas de grupos familiares, de amizade ou de trabalho. O problema é quando alguém com mentalidade mais arejada ousa reagir. Aí, azar dos pais, cônjuges, filhos, irmãos, tios, sobrinhos, afilhados e amigos. Estabelecido o conflito, rezemos para que a divergência não descambe para agressões verbais e físicas, fissuras definitivas e, em alguns casos mais escabrosos, para assassinatos.

Assim são as pessoas e assim são as criaturas. É a velha máxima de que todo ser humano, por mais previsível que seja, esconde sempre algum mistério dentro de si. Para sorte do mundo, especialmente do Brasil, aos poucos tudo passa, inclusive as pessoas que mudam quando não precisam mais do familiar, do amigo, do vizinho. Assim é Jair Bolsonaro, assim são os bolsonaristas, assim são os extremistas à direita. Eles se bastam, não admitem contrariedades, não aceitam o contraditório. Do meu lado, prefiro a vida em paz e em grupo. Melhor divulgar e escrever sobre boas práticas do que destilar ódio e espalhar teses preconceituosas apenas por dissensão.

Quanto às amizades perdidas, entendo que as pessoas mudam e, às vezes, não são mais compatíveis com nossa vida. Temos de aprender a aceitar e seguir em frente. Retroceder no caminho nem sempre é sinal de fraqueza, de derrota. Tudo isso porque, em processo de extinção no Brasil, os valores e os princípios não fazem parte do vocabulário do atual inquilino do Palácio do Planalto. Deveriam ser os primeiros itens da cartilha presidencial, mas o mandatário em questão talvez não tenha sido informado de que a maneira mais tranquila de se iniciar algo é parar de falar e começar a fazer. Ele esquece que o sucesso não está nas boas ideias, mas sim nas boas práticas.

Não precisamos de um presidente imbrochável, mas de um líder que priorize o povo do mesmo tanto que prioriza a necessidade de exacerbar sua libido. Por tudo isso, meu imaginário viaja para outro continente e se assusta com a possibilidade, ainda que remota, de um novo mandato para Jair Messias. Seria ele diferente do turco Recep Tayyip Erdogan, do húngaro Viktor Orbán e do polonês Andrzej Duda? Com certeza, não. Erdogan, Orbán e Duda aguardaram exatamente o segundo mandato para promover o desmonte completo da democracia e do Estado Democrático de Direito. Bolsonaro e seus líderes no Congresso iniciaram a destruição do país, incluindo o Judiciário, antes mesmo da conclusão das urnas. Nos miremos nesses exemplos e pensemos uma, duas, mil vezes na hora de escolher o próximo presidente da República Federativa [e Democrática] do Brasil.

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