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Bandeira fulanizada

No Brasil de hoje, a gente se olha e não se reconhece

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Junior* - Foto de Arquivo

Normalmente opto pelo silêncio quando questionado sobre a assumida possibilidade de, entre os extremos, escolher o menos raivoso, o mais democrático. Não respondo, pois é meu direito votar em quem bem entender. Além disso, o voto é secreto. O fato é que não vejo necessidade alguma de me pintar de patriota ou de partidário dessa ou daquela corrente ideológica para me mostrar mais ou menos brasileiro do que o vizinho, do que o colega de trabalho ou de algum familiar que se ache superior. Sou de opinião – e essa não escondo – que, patrimônio material, imaterial e intangível do povo brasileiro, o Brasil precisa recuperar o modo de volta para o futuro. E rápido.

A vida é uma escola e sou sempre o aprendiz. Tenho opinião formada a respeito de vários temas, mas jamais me nego a ouvir os mais velhos, os mais inteligentes, principalmente os mais sábios. Entretanto, me calo diante das ignorâncias, particularmente as decorrentes do fanatismo. Aí, a metade de mim que são gritos dá lugar à metade silenciosa. Melhor assim. Melhor do que parecer um hipopótamo invadindo um estádio de futebol em dia de grande clássico. O que dizer, por exemplo, àqueles que adoram definir a principal legenda da esquerda como partido da boquinha, mas odeiam ouvir que o governo da honestidade a qualquer preço transformou ministérios, autarquias e empresas públicas em quartéis?

Tenham certeza de que não há diferença. A boquinha de ontem é a mesma de hoje, sem tirar nem por. Desde janeiro de 2019, a ordem era escantear ou acabar com o lulo-petismo. Não conseguiram, mas normatizaram um pseudo líder que defende a tortura e quer a todo custo romper com a democracia, um bem caríssimo para o povo. E agora? O que fazer em um país sem oposição consistente e apinhado de partidos oportunistas, fisiológicos e que trabalham diuturnamente contra o eleitor? Depois de algum tempo realmente a agente se olha e não se reconhece. É o Brasil de nossos sombrios e inquietantes dias.

Após sonhar e participar veladamente da consolidação da democracia, jamais me imaginei assistindo manifestações com pleitos antidemocráticos, com pedidos físicos de intervenção militar. E o que falar da fulanização do uso do Pavilhão Nacional? Tudo isso por medo do PT? Repito que não há distância entre um ex-operário e um capitão. Eles e os políticos que lhes dão sustentação são iguaizinhos. Se existe alguma diferença é a madeira com a qual confeccionam a cara de pau. Talvez uma seja mais flexível, e até menos fosca do que a outra. Como dantes, os interesses são pessoais e imutáveis. O que mudou de lá para cá são os valores.

Hoje, muitos trabalham, poucos usufruem, a maioria defende a manutenção da democracia, mas alguns torcem pela ditadura babando os ovos de quem quer apenas a subversão, de quem trabalha para institucionalizar o Supremo Tribunal e seus ministros como inimigos. Não penso em respostas, mas gostaria de descobrir a verdadeira causa primária do surgimento da era bozolítica. Teria sido a antipatia pela democracia, a ojeriza à liberdade ou a necessidade de novos experimentos? Seja lá o que for, acredito que o antipetismo ainda custará muito caro àqueles que votaram em Jair Messias exclusivamente para se esconder de Luiz Inácio.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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