Curta nossa página


Bolhas ideológicas

No Brasil de passado imprevisível é difícil saber como será o amanhã

Publicado

Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior - Foto Tânia Rêgo/ABr

Em pleno século 21, quando o mundo briga por ar mais puro e contra a miséria de povos para os quais a maioria virou as costas, no Brasil a discussão errônea sobre política parece um ringue de pessoas vendadas. De um lado, há os que acham que, para ser de esquerda, é preciso somente ler e pensar muito. De outro, sobram os que têm certeza de que, para ser de direita, basta ter personalidade histriônica e prazer em odiar aqueles que pensam diferente. Tentando ser isento, avalio os dois lados como fantasticamente orgulhosos de suas próprias deficiências.

Eis a razão pela qual prefiro o silêncio quando percebo que é inútil falar a quem finge não ter ouvidos. Eu não pertenço a bolhas ideológicas. Por isso, tento circular de forma isenta por todas as tribos. Mesmo assim, aderi à sabedoria milenar, que é se calar e seguir em frente. Muitos não percebem ou não querem perceber, mas o mundo ficou um nojo. Já vivi épocas bem melhores. Sou do tempo em que as pessoas que não gostavam das outras passavam longe. Hoje, buscam se aproximar para xingar, agredir e, se possível, matar.

Estamos entregues à doutrina das redes sociais, cujas lógicas é juntar quem pensa igual e alijar os diferentes. É o sistema global querendo dar a voz da maioria à minoria. Assim fica mais fácil para os poderosos controlar e manipular as massas. Entra ano, sai ano, muda governo, volta governo e a mesmice continua. O maior investimento do poder tem sido na ignorância política do povo. Afinal, é ela que sustenta a ganância dos políticos amarrados em suas cadeiras nos parlamentos e nos palácios municipais, estaduais e federais. Ninguém larga o osso.

Conservador, mas sério, normal e preocupado com a pátria, o ex-deputado federal e ex-ministro Roberto Campos disse há pelo menos três décadas e eu repito em 2025: “Por amor ao passado, o Brasil perdeu o presente e comprometeu o futuro”. Em um país onde até o passado é imprevisível, é impossível prever o que vai acontecer amanhã. Como somos uma nação em busca de si mesmo, nos falta direção. O futuro são oportunidades presentes e estas não caem do céu. Elas existem apenas para os que se movem.

O problema do Brasil é seu povo. Enquanto os normais (nós) dormem, os loucos abastecem o país com sandices. Como explicar a necessidade de um ex-presidente da República usar a ideologia feminina para diferenciar as mulheres. Ao contrário do que ele pensa e diz, toda mulher merece respeito e consideração, independentemente de ser petista ou de direita. Em tempos de Quaresma, deveria não respondê-lo, pois ele sim é uma coisa obsoleta. No entanto, é difícil acreditar que, em pleno século 21, ainda exista um homem público capaz de vomitar publicamente que as mulheres petistas são “feias e incomíveis”.

Aqueles que ouvem e gargalham como hienas diante desse tipo de coisa acham que ele adora as da direita. Eu duvido. Com passado condenável em relação às mulheres, fica a dúvida sobre eventual prazer que o ex-mandatário possa ter com as moças direitas ou erradas da direita. Realmente o Brasil merece líderes mais inteligentes e menos estúpidos. Jogado num buraco sem tamanho, o país clama por seu povo. Precisamos unir os votos vencidos e os vencedores nesta missão. Nessa altura do caos, o Brasil não precisa de inimigos externos. Nossos inimigos são nossos próprios compatriotas, particularmente os “patriotas”.

…………………

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2024 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.