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Vida marvada 2

Nossos ídolos só morrem quando (e se) nos esquecermos deles

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior* - Foto Reprodução das Redes Sociais

 Ícones da minha adolescência e juventude, Gal Costa, Erasmo Carlos, Rolando Boldrin e Milton Nascimento se calaram. Gal, Boldrin e Erasmo foram chamados para o repouso definitivo, enquanto Milton continua filosofando, mas em silêncio. Um dos maiores mistérios da vida, a morte nos alcança e sempre nos surpreende. Foi o que aconteceu com Maria da Graça Costa Penna Burgos, Erasmo Esteves e Rolando Boldrin. A verdade é que, nesses dias negros em decorrência do ódio destilado pelos derrotados, o céu está mais azul e o paraíso mais alaranjado com a chegada em série de personalidades marcantes do show biz brasileiro. Felizmente, o homem de bem não morre quando deixa de viver, mas sim quando deixa de amar. De qualquer maneira, atenção para o refrão: “É preciso estar atento e forte/Não temos tempo de temer a morte”.

Como a morte existe apenas por uma  brevíssima troca de ausências, a Gal, o gigante gentil Erasmo e o contador de causos Boldrin permanecem entre nós. A leveza de suas poesias e a amizade com suas músicas ajudaram o Brasil e os brasileiros a entenderem a rebeldia, o amor, a rudeza e as expressões de gerações. Hoje eu ouço as canções que vocês fizeram pra mim, sento-me à beira do caminho e já não consigo mais escutar alguns dos meus irmãos e irmãs camaradas. Será mentira ou será verdade que Erasmo Carlos e Gal Costa partiram? E Milton Silva Campos do Nascimento? Nunca mais ouviremos o Bituca ao vivo? Nunca mais. Ele não se cansou de nós, mas, Do fundo do meu coração, acho que ele se cansou de ser Milton. Enfim, a Festa de arromba nestá por um fio. É preciso dar um jeito, meu amigoFeche os olhos, ouça Baby e, por favor, pare de procurar o Objeto não identificado.

Groupie Gal era Minha superstar. Ela não era A irmã do meu melhor amigo, mas acabamos íntimos depois que ouvi da Mãe de todas as vozes Meu nome é Gal. Sozinho, ficava horas imaginando o que dizer para minha Gatinha manhosa. Pensei alto: a partir de agora não quero ser Mais um na multidão. Sei que Sou uma criança, não entendo nada, mas achava que um dia assumiria Minha fama de mau. Nunca consegui. Além do Calhambeque, me faltava o jeitão de Brucutu. Sempre soube que É preciso saber viver. Entretanto passei boa parte da juventude buscando uma única razão para, em plena Jovem Guarda, ser lembrado que É proibido fumar. Nunca foi. Até no escurinho do cinema, lá estava O pica-pau enchendo a paciência do broto e impedindo o Splish splash. E justamente na hora em que eu começo a ensaiar um novo mantra: Vem quente que eu estou fervendo.

Fui apresentado ao João Gilberto de saias naquele momento de êxtase. Anotei em meu Caderninho e tudo foi Divino, maravilhoso. Metido a Playboy e a Estrelinha,  lembrei-me dos Detalhes da canção do Tremendão e pedi a ambos: Não me digam adeus. Vivam eternamente como Sementes do amanhã. Gal, Erasmo, Boldrin e Milton, vocês têm uma Força estranha, parecem um eterno Dia de domingo, daqueles que nem a Chuva de prata tira do meu Coração de estudante a certeza de que a vida deveria ser uma constante Modinha para Gabriela, talvez uma Festa do interiorQue pena descobrir que tudo isso é apenas um Sonho meu, algo meio Esotérico, do tipo Vaca profana, mas Como 2 e 2, tudo a ver com o Vapor barato pilotado por Wally Salomão e Jards Macalé.

Maria, Maria por que fostes tão cedo? Você, o Tremendão e o moço sertanejo embarcaram precocemente no Trem das estações e, de passagem por London, London, certamente esqueceram de cantar junto com Milton a Canção da América. Também não notaram que a Travessia, logo ali em San Vicente, faz alguns anos passou a ser tão importante como a Ponta de areia, point de Paula e Bebeto, da turma do Clube da Esquina e que parece ter sido feita Para Lennon e Mccartney. Como minha Fé cega, faca amolada, permaneço no Morro velho, olhando vivamente a Paisagem da janela, por meio da qual imagino a meninada brincando de Bola de meia, bola de gude. De um Som imaginário, ouço Certas canções, ocasião em que não consigo esquecer dos Bailes da vida. Foram momentos de pura Raça segurar o Cálice e não poder experimentar o que havia no Calix bento.

Como a Moda do fim do mundo, tem gente que hoje mais parece a Vaca estrela e o boi fubá. Salve Boldrin, o Chico boateiro e criador do Futebol da bicharada. Por falar em futebol, atendendo a pedido de um ídolo que partiu há mais tempo (Wilson Simonal), nestes dias de Copa do Mundo pensei melhor e Vesti azul para não ser confundido com aquele pessoal da baderna sem causa. Mesmo com a vitória dos meninos de Tite, o Brasil está vazio nas tardes de jogos da Seleção. Gal Costa, Erasmo Carlos, Rolando Boldrin não estão mais entre nós. Torcendo para que, mesmo em silêncio, Milton fique conosco ainda por muitos anos, lembro de quando minha avó dizia que a morte não existe. Ela acreditava que só morremos quando os outros nos esquecem. É a mais pura verdade. Gal, Erasmo, Boldrin, Simonal, Lady Laura, Jô Soares, Cláudia Jimenez e Isabel Salgado, entre muitos outros, jamais serão esquecidos. Roberto Carlos perdeu o irmão camarada e a moça Gal, mas ficaram os brothers Caetano, Gil, Bethânia e a Ternura da Wanderléa. Eita Vida marvada.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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