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Exposição

Nova York presta homenagem a Burle Marx

Publicado

Autor/Imagem:
Tonica Chagas

Palmeiras, bromélias, orelhas de elefante, paredes com cascatas artificiais e calçada com desenhos ondulados em branco e preto transformaram parte dos cem hectares do New York Botanical Garden (NYBG) em paisagens conhecidas dos brasileiros. O criador de jardins como os do Aterro do Flamengo, no Rio, do Palácio do Itamaraty e do Eixo Monumental, em Brasília, ou da sede da Unesco, em Paris, é celebrado ali com a exposição botânica Brazilian Modern: The Living Art of Roberto Burle Marx. Além de instalações com plantas tropicais, a exposição tem exemplos de pinturas, desenhos e tecidos criados por Burle Marx, mostrando conexões entre seus projetos paisagísticos e as artes que o definem como um artista moderno por excelência.

O design da exposição é do paisagista americano Raymond Jungles, que tem escritório em Miami. Jungles conviveu com Burle Marx nos últimos 12 anos de vida do brasileiro, se declara totalmente seu discípulo e diz ter seguido o que aprendeu com ele para fazer a exposição. “Uma das coisas que ele sempre dizia era que desenhava com princípios, não com fórmulas”, lembra Jungles. “Embora ele tivesse um estilo muito diferente em seus projetos de jardim, não havia nada que fosse estereotipado, nada que fosse preconcebido.” Como paisagista, Burle Marx (1909-1994) não usava qualquer técnica que modificasse a forma natural das plantas.

Dividida entre a área da estufa e o prédio principal do New York Botanical Garden, “Brazilian Modern” tem como atrativo central o “Jardim Modernista” inspirado no calçadão de Copacabana que, feito de pedras portuguesas formando ondas, foi remodelado por Burle Marx em 1970 e é uma das imagens mais conhecidas do Rio de Janeiro. O caminho margeado por plantas nativas brasileiras e caribenhas leva a um laguinho alimentado pela água que jorra de um painel escultural de concreto, referência ao que foi criado pelo paisagista brasileiro para a sede do Banco Safra, em São Paulo, em 1982.

Autor de quase três mil projetos realizados no Brasil e no exterior em 60 anos de carreira, Burle Marx incorporou em seus jardins a biodiversidade brasileira, trocando os padrões do romantismo europeu de flores e topiários por plantas nativas e exuberantes, que não exigem manutenção constante. Uma das galerias sazonais do conservatório abriga o “Jardim do Explorador”, com espécies que ele coletava em viagens e cultivava em seu sítio, em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. A micro floresta vem se adensando com o calor do verão nova-iorquino e ao som de bossa nova emitido por alto-falantes instalados na galeria.

No jardim aquático do conservatório, uma parede de samambaias lembra os jardins verticais com que Burle Marx inovou seus projetos na década de 1960 e hoje estão em voga. No lago artificial, entre lírios d’água da coleção do New York Botanical Garden, flutuam nenúfares tropicais e outras plantas aquáticas que ele gostava. No começo da semana passada, surgiram as primeiras folhas de uma vitória-régia, a maior delas. Na natureza, essas folhas podem chegar a nove metros de diâmetro.

Conservação
Brazilian Modern: The Living Art of Roberto Burle Marx também mostra um pouco do ambiente no sítio que Burle Marx comprou em 1949 e usou até o fim da vida como lugar de descanso e laboratório para suas pesquisas. Doado por ele ao Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), com cerca de 3.500 plantas e cômodos repletos de coleções de arte popular, o sítio aguarda avaliação da Unesco a sua candidatura a patrimônio da humanidade apresentada pelo instituto.

No quarto andar do edifício da biblioteca do NYBG, um grande retrato de Burle Marx em seu estúdio é ladeado por dois painéis com imagens dos azulejos azuis e brancos pintados a mão que decoram a loggia da casa naquela propriedade. Sobre uma mesa comprida, caixas de lápis em dez tons de azul e caixas de papel são convite para o visitante criar o próprio azulejo e completar o design de Burle Marx. Pinturas e tecidos com desenhos abstratos demonstram algumas mídias empregadas por ele e uma série de litografias representando ecossistemas brasileiros datados de 1991 são exemplo raro de arte figurativa deste período.

Em outra galeria, uma mostra focada em botânica e conservação apresenta plantas do Cerrado, da Floresta Costeira Atlântica e da Amazônia, três biomas-chaves do Brasil, e lembra as “viagens de coleta” que Burle Marx fazia pelo País para descobrir, compreender e preservar exemplares da flora nativa brasileira. Os cientistas do NYBG fazem o mesmo desde 1891, quando a instituição foi criada. Conforme um texto à entrada da galeria, eles estão numa corrida contra o tempo nesse trabalho por causa do deflorestamento provocado pela agricultura, criação de gado, mineração, assentamentos e mudanças climáticas regionais. O texto informa que, “em média, publica-se a descoberta de uma nova planta brasileira a cada dois dias e é provável que milhares de espécies aguardem descoberta”.

Em exibição no NYBG até 29 de setembro, Brazilian Modern: The Living Art of Roberto Burle Marx tem previsão de ser exibida depois pelo Tucson Botanical Gardens, no Arizona, e o Denver Botanic Gardens, no Colorado.

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