Gavetas vazias
O ano passa e a gente, sem pensar, deixa tanta coisa passar
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De repente o ano passa e quanta coisa a gente deixar passar…
Nos últimos dias de dezembro, costumo esvaziar as gavetas da mesa no escritório, como um ritual de purificação para entrar em janeiro.
Desvencilhando-se daquilo que já não faz mais sentido, abre-se caminho para acumular outras coisas – que talvez dali um ano serão descartadas.
Na sessão do descarrego deste ano, me desfiz de remédios vencidos, anotações e bilhetes com tarefas já cumpridas, chaves de não sei onde e vários cartões de visita.
Também reuni moedas jogadas a esmo na gaveta da esquerda. Coloquei-as num cofrinho para trocá-las no mercado. Ainda guardei num álbum as fotos depositadas na gaveta da direita.
Tudo levou poucos minutos e o resultado foi a sensação de que eu estava pronto para entrar no Ano Novo, com gavetas vazias esperando novidades.
Mas ao separar os cartões de visita, recebidos às dezenas, fiquei com a inquietante sensação de que o ano passou e eu deixei tanta gente passar…
O colega de profissão que me deu cartão para um contato que nunca aconteceu; o velho amigo que revi num congresso e com quem combinei um café que nunca foi tomado.
De repente o ano passou e não liguei para a amiga que esperava um almoço para se aconselhar. Também não passei aquele e-mail para alguém que se sentou na poltrona ao lado durante uma viagem. Indelicadezas…
Talvez nem receba tantos cartões de visita neste novo ano – pelo menos os físicos, porque a moda são os digitais. Seja qual for a forma, pretendo lhes dar a merecida importância.
Que ao final do próximo ano as gavetas estejam novamente vazias, mas que eu não deixe tanta gente, tanta coisa passar…
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