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Virou apelido

O neto, a avó e o mercurocromo (que não arde…)

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Reprodução Freepik/ Arquivo

Essa história, dizem, aconteceu quase no final dos anos 1970, início dos 1980. Frederico Carlos de Alcântara Gomide Neto foi o nome que aquele mirrado guri recebeu assim que aquelas palmadas certeiras no seu enrugado bumbum o fizeram chorar. Não um choro qualquer, mas daqueles que fez o hospital inteiro ouvir. O pai, cambaleando das pernas, quase foi ao chão, se não fosse o providencial amparo da robusta enfermeira.

Assim que chegou àquele amplo apartamento, foi recebido pela avó, ainda mais coruja que a própria mãe. “Que rapagão mais lindo! Vai ser presidente do Brasil!”. Alheio a tudo isso, Frederico Carlos bocejou o bocejo dos que já estão de barriga cheia e só quis se encolher, todo quentinho, naquele berço repleto de penduricalhos.

O menino cresceu rechonchudo, bochechas de buldogue birrento. “Que bico mais lindo é esse?”, dizia a avó, que adorava mimar o neto. Afinal, enquanto os pais tentam educar, é tarefa mais que nobre dos avós deseducarem. E a velha fazia isso com uma perfeição virginiana. Se o moleque quisesse hambúrguer no almoço, que lhe dessem hambúrguer; se quisesse pizza no jantar, não custava nada lhe satisfazer mais esse desejo.

Certa feita, eis que a empregada, ao trocar mais uma das inúmeras fraldas do garoto, cometeu um erro crasso. Ela o chamou de Fred. Pra quê? A avó quase voou no pescoço da pobre coitada: “O nome dele é Frederico Carlos de Alcântara Gomide Neto!” Diante de tal falta gravíssima, a empregada foi mandada embora por justa causa. “Justíssima!!!”, repetia a velha.

Quando chegou o décimo aniversário do pirralho, houve aquela festança. Alguns coleguinhas, todos rigorosamente selecionados, compareceram ao grande evento. Tudo, tudinho mesmo, parecia correr dentro do esperado, até que o Frederico Carlos, após tropeçar no tapete persa quase autêntico da ampla sala, deu com a testa na mesa. Na verdade, nem chegou a abrir um talho maior do que alguns míseros milímetros, quase sem sombra de sangue, mas foi um chororô além da conta.

A mãe e a avó correram para socorrer o quase nocauteado menino, enquanto o pai foi ligeiro até o banheiro para pegar algo para passar na ferida. Assim que ele retornou, ouviu o protesto da avó: “Merthiolate não, que arde! Traga o mercurocromo!” O homem, agora mais esbaforido que nunca, voltou ao banheiro para pegar o tal medicamento.

Logo a testa do Frederico Carlos estava toda vermelha de tanto mercurocromo. E foi assim que ele foi para a escola nos dias seguintes e, já na sexta-feira, o Frederico Carlos de Alcântara Gomide Neto só continuou existindo para a sua avó. De resto, todos passaram a chamá-lo de Fred Mercúrio.

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