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Gota d'água do Supremo

Onde estão o cabo e o soldado, hein, Bolsonaro, filho?

Publicado

Autor/Imagem:
Ka Ferriche

Pode estar fazendo falta o critério meritocrático para a aprovação dos integrantes do Supremo Tribunal Federal. Há um equívoco da opinião pública sobre o processo que legitima a ocupação de uma das 11 cadeiras da Corte Suprema.

Tecnicamente, a aprovação não é do presidente da República, mas do Senado Federal, onde os indicados do Palácio do Planalto devem ser sabatinados, ocasião em que devem apresentar suas credenciais de notório saber e exibem seus conhecimentos. O Senado aprova e, se for o caso, desaprova. Emprega e desemprega. É dele essa responsabilidade.

Nas últimas horas, decisões monocráticas do ministro Alexandre de Moraes, a mando de seu atual chefe, presidente do STF Dias Toffoli, abriu um precedente histórico, comparado pelos apoiadores radicais de Bolsonaro, como o “AI-5 do Judiciário”. Após censurar a revista Crusoé, determinou busca e apreensão em oito endereços, entre eles, na residência do general Paulo Chagas, em Brasília.

Imediatamente as redes sociais foram congestionadas por apoiadores das críticas desferidas pelo general sobre os supremos ministros e suas decisões. Muitos trouxeram o recall do que disse Eduardo Bolsonaro: “Para fechar o STF basta (sic) um soldado e um cabo”.

Diante da afirmativa, aquilo que seria uma metáfora do jovem deputado federal, que carrega quase dois milhões de votos obtidos nas últimas eleições, surge como uma ideia no imaginário coletivo, especialmente quando um general é alvo de uma operação policial do STF.

Eduardo é também advogado e policial federal, só para que todos entendam que se trata de um parlamentar qualificado.

“O sistema penal acusatório estabelece a intransponível separação de funções na persecução criminal: um órgão acusa, outro defende e outro julga. Não admite que o órgão que julgue seja o mesmo que investigue e acuse”, são palavras da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que recomenda o cancelamento de toda a pirotecnia jurídica em que foi transformada a combinação de Toffoli e Moraes.

O jornalista Caio Copolla, em vídeo no YouTube, ressalta as doutrinas recentes adotadas pelo STF: uma laxativa – que solta tudo e todos – e outra da borracha – que apaga das redes sociais tudo e todos que revelem e publiquem insatisfação com as decisões de membros do Supremo.

O documento expedido pela PGR fala no arquivamento do processo em função de sua ilegalidade. A TV Globo foi atrás da cronologia dos fatos relativos à matéria da revista Crusoé, sobre o amigo do amigo do pai de Marcelo Odebrecht, alcunha que este afirmou ser a identificação, nas planilhas de sua generosa empreiteira, do atual presidente do STF.

O documento de fato existiu, segundo a Globo, integrado ao processo enviado à PGR, mas desapareceu no caminho, após a publicação da reportagem da revista censurada.

É claro que as redes sociais já estão difundindo o #QUEREMOSACONFISSÃODOMARCELO, para pressionar a Suprema Corte ou o serviço dos Correios, quem sabe, caso seja o responsável pelo transporte – e possível extravio – do documento.

Mas cabe agora aos agentes de investigação localizar o documento. Juridicamente, caso tenha sido subtraído por algum distraído, este estará sujeito às consequências da lei.

Pode não ter sido uma boa ideia desencadear a cascata de decisões que acabaram por atingir muito além de um mero cabo ou soldado. Observadores garantem que cabos e soldados já estão nas fileiras internas do STF, despachando por lá, como meros aprendizes. Os generais comandantes continuam aqui fora. A aposta é de que vão continuar assim, calculando movimentos, sem medir palavras.

Quem diria, ao passar pelo Palácio do Planalto, um turista ouviu um deles assoviar: “Deixe em paz meu coração; que ele é um pote até aqui de mágoa; e qualquer desatenção, faça não; pode ser a gota d’água…

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