Alto lá, Nikolas
Oposição bombardeia merenda escolar in natura. Quem está por trás disso?
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É absolutamente estarrecedor que, em pleno 2025, deputados federais como Nikolas Ferreira e Roberta Roma, estejam articulando a derrubada de uma medida presidencial que visa garantir alimentação saudável nas escolas públicas brasileiras. A justificativa, por si só, já demonstra o nível de distorção dos valores em jogo: segundo eles, o governo estaria “vilanizando os alimentos industrializados”. A pergunta que deve ser feita, com urgência, é: quem se beneficia com essa cruzada contra a saúde das nossas crianças?
Diversas pesquisas científicas, nacionais e internacionais, já comprovaram exaustivamente os malefícios do consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, especialmente para o público infantil. Doenças como obesidade, diabetes tipo 2, hipertensão e até transtornos comportamentais têm sido associadas ao consumo regular de produtos repletos de sódio, açúcares e aditivos químicos. Além disso, há evidências claras de que uma alimentação inadequada compromete diretamente a capacidade cognitiva e o desempenho escolar das crianças. O que está em jogo, portanto, não é uma simples disputa ideológica sobre o cardápio escolar, mas sim a saúde e o futuro de toda uma geração.
A tentativa de barrar políticas públicas que asseguram alimentação saudável nas escolas públicas soa como um retrocesso inaceitável e levanta sérias suspeitas sobre os reais interesses por trás dessa movimentação. Estariam esses deputados defendendo a indústria de alimentos ultraprocessados, em detrimento do bem-estar infantil? Estariam, talvez, cedendo à pressão de empresários poderosos, que veem nas escolas públicas um campo lucrativo para despejo de produtos industrializados disfarçados de “opções práticas e acessíveis”?
O Estado brasileiro tem o dever de proteger as crianças, principalmente em contextos de vulnerabilidade social, como é o caso de milhões de estudantes da rede pública. Em muitas regiões, a merenda escolar é a única refeição completa que essas crianças recebem no dia. Que tipo de responsabilidade pública é essa que opta por substituir arroz, feijão, legumes, frutas e hortaliças por pacotinhos coloridos com prazos de validade de meses e quase nenhum valor nutricional?
A retórica de que a política de alimentação saudável “demoniza” os industrializados é unicamente uma falácia. Ninguém está dizendo que comer um biscoito de vez em quando é um crime. O que está em pauta é a promoção de hábitos saudáveis de forma sistemática e orientada, com base em evidências e no direito à saúde garantido pela Constituição. Confundir isso com vilanização da indústria é, no mínimo, má fé.
Ao invés de atacar políticas públicas que funcionam, os parlamentares deveriam estar preocupados em fortalecer a agricultura familiar, incentivar hortas escolares, ampliar o acesso a alimentos frescos e apoiar educadores e nutricionistas em seu trabalho de conscientização alimentar. Sabotar a alimentação escolar é sabotar o futuro do Brasil.
A quem serve essa agenda obscura que põe em risco a saúde e o aprendizado das crianças brasileiras? Certamente, não às famílias, aos educadores, nem aos estudantes. Essa postura revela uma triste inversão de prioridades: legislam não pelo povo, mas por interesses que caminham na contramão da ciência, da ética e da responsabilidade social.
É hora de denunciar, resistir e cobrar. Porque criança bem alimentada aprende mais, cresce com dignidade e sonha mais alto. E nenhum deputado deveria ter o direito de tirar isso delas.
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Rafaela Lopes, colaboradora do Café Literário, eventualmente escreve outros textos para diferentes editorias de Notibras
