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País de HQ

País de bobos, Brasil tem velhos vilões e novos heróis

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo/Reprodução X

Preguiçoso, indolente e sempre buscando formas de fugir do pesado, o sargento Garcia luta para conseguir o que mais gosta: sombra, água fresca, poder e ninguém para responder. Formada pelos recrutas Zero, Cosme, Damião e Dom Um, sua trupe nada, nada e normalmente morre na praia. Também pudera. Eles seguiam e seguem o lema de vida do patrono, que era, é e sempre será nunca deixe para amanhã o que você pode fazer depois de amanhã. Tudo sob a supervisão do soldado Dentinho, o mesmo que, com ajuda do sargento Platão, tentou invadir a sede do Supremo Tribunal Federal, reduto do general Shazam, o mortal mais poderoso de Brasília.

Física e fisionomicamente parecido com o Homem-BorrachaGarcia já foi muito popular. Perdeu a graça depois de tentar, por meio de uma legião de super-heróis do mercado da Ceilândia, botar fogo nos três poderes da Pérsia dirigida pelo Gladiador Dourado, o carequinha bem humorado da Liga da Justiça. Disposto a tudo para não perder o trono, Homem-Borracha já usou seus poderes para criar coisas bizarras em formas ainda mais bizarras. Tudo isso para derrotar o justiceiro Nove Dedos, o grão-mestre do Cerrado e terror dos aventureiros treinados pela supergirl Arlequina.

A história recente dos quadrinhos provou que não é preciso tons escuros ou tanques fumacentos para contar uma história de super-heróis. Hoje, com as relações humanas tão desiguais, o povo quer povoar a mente com heróis de visões mais animadoras para salvar o mundo. Não há mais necessidade de radicalismo, ódio, trevas ou violência do tipo Popeye. O que se pede ao sargento Garcia é um mínimo de serenidade, algo que o faça compensar o tempo perdido na busca insana do Zorro pela galáxia perdida de Gay Que Sou.

A continuar Perdido no Espaço, em breve seus fãs, também chamados de “patriotas”, começarão a vê-lo com o Deadpool, um herói apenas técnico, com métodos que variam do ridículo ao totalmente repreensível. Didaticamente, é um desventurado e sem o sarcasmo provinciano, mas com o bom humor do Homem-Aranha. Nos últimos meses, tem lembrado mais o conservadorismo do Fred Flintstone e muito menos o astral nocivo do Coringa. Ou seja, vem chocando mais do que pondo.

Em franco contraste com sua crueldade, seu falso bom-mocismo remete às peripécias do Capitão Pátria, líder do The Boys, análogo do Superman, cuja existência reúne tudo que qualquer cidadão correto não gosta na humanidade. Isso quer dizer que, independentemente de alcançar o Zorro, sargento Garcia jamais chegará próximo do carisma do Capitão América. No máximo, no de Peter Quill, o personagem cômico tido e havido como o senhor das estrelas apagadas dos confins da Terra.

O fato é que quem nasceu para Naruto jamais será um Johnny Bravo. Quando muito, um Pluto. Quem anda louco para ser incorporado pelo sargento Garcia é o caricato mordomo Crô, primo irmão do Zé Bonitinho e, ainda que de longe, uma encarnação do Homer J. Simpson. Enquanto isso, os generais Pikachu e Garfield permanecem entocados no buraco escorregadio do Bob Esponja Calça Quadrada. E o que todos eles temem: Saitama, o super-herói careca, personagem central do mangá e do anime One Punch-Man. O único insulto que provoca algum tipo de reação nele é qualquer coisa sobre sua falta de cabelo. Se cuidem, meninos superpoderosos.

*Wenceslau Araújo é editor-chefe de Notibras

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