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Tauba

Palavra errada soa gostosa como um banco de jardim

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@donairene13 - Foto Francisco Filipino

Eu gosto de brincar com as palavras. Às vezes fico só pensando nelas, como quem gira uma pedrinha na mão, olhando de vários ângulos pra ver onde está o brilho. Palavras têm personalidade própria: algumas são mais elegantes, outras são desajeitadas, e tem aquelas que, quando saem da boca de gente simples, ficam ainda mais bonitas justamente porque vêm “erradas”.

Veja só: rezistro. Me desculpe a gramática, mas é muito mais bonito que registro. Rezistro tem até um ar mais solene, parece coisa de cartório antigo, com carimbo e papel amarelado. E o que dizer de imbigo? Umbigo é só um umbigo, mas imbigo tem fofura, parece nome de passarinho ou apelido carinhoso.

Outro exemplo maravilhoso é o sumercado. Não existe economia maior: você corta uma letra e já dá a sensação de que o preço vai cair também. “Vou ali no sumercado rapidinho”. É prático, simpático, cabe no bolso e na boca.

E, claro, não posso esquecer da clássica tauba. Tábua soa sério, pesado, quase objeto de obra. Já tauba é mais leve, parece coisa de quintal de vó, madeira boa pra improvisar banco ou equilibrar uma criança brincando.

No fim das contas, acho que a língua portuguesa só fica completa quando a gente deixa espaço pra essas belezuras “erradas”. É como se a vida lembrasse: nem tudo precisa estar certo pra ser bonito. Algumas palavras são como algumas pessoas: mais encantadoras justamente nas suas imperfeições.

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