Ditadura militar
Para que ninguém se esqueça que há crimes para desvendar
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Mesmo que a cobertura pré-Oscar e a torcida tenham enfatizado mais o talento de Fernanda Torres do que os méritos do enredo, não há como negar os efeitos políticos do primeiro Oscar conquistado pelo Brasil. A história real de um desaparecido político obviamente exclui a turma da direita das comemorações, inclusive das congratulações protocolares, como o silencioso caso do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
Entre os evangélicos, o filme furou a bolha e lembrou os protestantes que eles também enfrentaram a ditadura. O filme impulsionou ainda homenagens, como a do prefeito do Rio, Eduardo Paes, que quer transformar a antiga casa dos Paiva em um centro cultural e a proposta na Assembleia Paulista de renomear a rodovia Castello Branco como Eunice Paiva. Já Vera Paiva, assim como Walter Salles em seu discurso, quer que o filme provoque reflexões atuais e questione movimentos neonazistas e as posições de Donald Trump, inclusive sobre a faixa de Gaza.
E enquanto Luis Nassif espera que a conquista cinematográfica retome o orgulho nacional em direção a um projeto político transformador, as centrais sindicais lembram que, para isso, é preciso fortalecer a Comissão de Mortos e Desaparecidos, sem a qual a história por detrás do filme não teria sido conhecida. Porém, o maior impacto de ?Ainda estou aqui? talvez seja sentido no STF.
A comoção pode impulsionar a Corte a rever o alcance da Lei da Anistia. Analisando os recursos do MPF sobre as ações penais envolvendo os desaparecimentos de Rubens Paiva e Mario Alves e o assassinato de Helber José Gomes Goulart, cujo corpo ficou desaparecido por 19 anos, o STF decidiu por unanimidade analisar a aplicação da Lei da Anistia para estes casos, ainda sem data para o julgamento. A decisão pode influenciar outros 15 casos, segundo levantamento da Agência Pública, além de provocar cerca de 200 novas ações.
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O Boletim Ponto é escrito por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile para o MST.
