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Encruzilhada eleitoral

Perdido no tempo, Brasil pode perder bonde da globalização

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Matheus Pichonelli/Reprodução das Redes Sociais

Entre frases famosas e ainda atuais de pensadores e filósofos de séculos anteriores, uma parece ter sido cunhada para a quadra que vivemos. Creditada a Heráclito, que viveu cerca de 500 anos antes de Cristo e antes mesmo da época de Sócrates, a expressão “Tudo flui e nada permanece” mostra que a preocupação com a mudança é parte da natureza humana. Para nós, brasileiros, parece que deixou de ser. Também de Heráclito e com idêntico sentido é a afirmação “Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio”. E por quê? Porque conforme as águas do rio fluem ele se torna um novo rio. Além disso, teoricamente o próprio ser já se modificou.

Assim deveria ser o Brasil, uma constante mudança, particularmente no item política. Infelizmente, o bonde tupiniquim normalmente sai dos trilhos quando o assunto é poder. No mundo moderno, tudo é regido pela dialética, pela tensão e pelo revezamento dos opostos. Pela tese do filósofo de Éfeso, até o que parece imutável se transforma, o que significa melhorar, piorar ou simplesmente mudar. Em síntese, assim como a vida, as flores e as dores, nada deve ou pode ser permanente. A máxima da filosofia, que, nesse caso, não é vã, é cristalina: que se mude o que não deu certo ou começou a dar errado. No caso do Brasil, estamos perdidos no tempo e no espaço. Por isso, ou mudamos ou não embarcamos no bonde globalizado da história mundial.

Quer queiram ou não os extremos à direita ou à esquerda, em outubro enfrentaremos uma encruzilhada eleitoral. De um lado, o corvo crocita, os lobos do entorno uivam, e, de vez em quando, um leão ruge e um porco grunhe. Na outra ponta, o sapo coaxa, as cobras sibilam, os galos encolhidos clarinam e os morcegos adormecidos farfalham. Entre os dois, numerosas hienas gargalham, gralhas gralham e os abutres grasnam. O problema são os cordeiros que preferem não balir. Pior são os ursos de outrora, que, em vez de bramir, hibernam à espera de um milagre que não virá. Enquanto isso, os gafanhotos estrilam sobre o que ainda resta do país.

Obviamente que minhas referências às mudanças são conceituais e com conteúdos de teor moral. Não tenho por vocação julgar ou avaliar ações pessoais. Entretanto, é minha obrigação como contribuinte ter opiniões a respeito de condutas públicas Em verdade, são posições destinadas a mostrar a distância abissal entre a teoria e a prática de nossos mandatários. Sei que malho em ferro frio, mas meus valores não me permitem desistir. Sou adepto da filosofia de que o mundo não poderá tomar um novo caminho se não conseguir uma união íntima da técnica e da moral. No português mais popular, refiro-me à união entre o preparo e a honestidade formal.

O resumo da ópera é que, antes que sejam esquecidas de vez, as mudanças precisam acampar urgentemente no mundo, particularmente no Brasil. Depois do ufanista ame-o ou deixe-o, vivemos épocas de boas e razoáveis lembranças. Para os mais novos, a Terra Brasilis já foi a união de todos, um país de todos, o país do futuro, do milagre econômico, rico e sem pobreza, pátria educadora e de Deus acima de todos. Hoje, para os nacionalistas cívicos e ultranacionalistas não passa de uma nação de um único e perpétuo dono. É o país da hipocrisia experimentando uma desejada e tacanha sensação de superioridade patriótica. As duas guerras mundiais e a recente invasão russa à Ucrânia são alguns exemplos da expansão e dos danos do sentimento nacionalista.

A impressão que fica é que não precisamos mais de governantes. Nos bastam aventureiros despreparados, deslumbrados, caçadores disso e daquilo, degustadores do dinheiro público e criadores de slogans que não se sustentam. Enquanto viver, minha preferência será pela alternância. Sou de opinião que o real naturalmente é fruto da mudança. Por isso, mantenho firme a ligação com os ensinamentos de Albert Einstein. O principal deles é que “toda a mente que se abre a uma nova ideia jamais volta ao tamanho original”. Pensemos nisso em outubro. Lembremo-nos sempre que quem vive do passado vira as costas para o futuro. Vivamos o presente.

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