Abstinência forçada
Pipoca, manjar até mesmo no Olimpo, vira vilã para as mães de filhos pequeninos
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Eu amo pipoca. Amo com força, com fé, com farinha (mentira, sem farinha, que isso é heresia). Pipoca é pra mim o que o pastel é pra feira, o que o feijão é pro arroz, o que a sexta-feira é pro trabalhador: essencial.
Sou daquelas que não apenas gosta — eu reverencio essa iguaria crocante, dourada e perfumada, herança dos povos indígenas das Américas, inventores do que há de melhor na vida (além do milho em si, claro). Quando dizem que pipoca é só lanche, eu até me arrepio. Pipoca é janta sim, com direito a prato fundo e controle remoto na mão, especialmente numa sexta-feira à noite, largada no sofá, ao lado do meu marido, assistindo a um filme de terror B daqueles que o sangue parece catchup e o monstro claramente é um ator com um cobertor nas costas.
Mas agora vem a parte triste da história. Prepare o lencinho. Eu estou há quase dois anos sem comer pipoca. Dois. Anos. Sem. Pipoca. Uma abstinência que nem São João explica. E tudo isso por amor. Não, não ao meu marido (apesar de ele estar incluído no pacote), mas à minha filha.
É que, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria — esses guardiões da segurança infantil e dos nossos lanches —, pipoca só depois dos quatro anos. Antes disso, é risco de engasgo, broncoaspiração, mini-infartos maternos e sustos homéricos. A pipoca virou o vilão da vez, quase um Freddy Krueger do mundo dos alimentos.
Então fiz um pacto: só volto a comer pipoca quando minha filha puder comer também. A gente vai estrear esse momento juntas, em um ritual sagrado: ela, com os olhos brilhando diante daquele potinho; eu, com lágrimas escorrendo ao sentir de novo o gosto do milho estourado, da manteiga derretida, do sal que gruda no dedo e da vida que faz sentido outra vez.
Meu marido também está nessa. Solidário, firme, companheiro… ou talvez apenas com medo de comer escondido e ser pego no flagra com a boca cheia. Afinal, exemplo é tudo. Aqui em casa, a pipoca está em quarentena coletiva, exilada até a nossa pequena completar os benditos quatro anos.
E quando esse dia chegar, meus amigos… quando esse dia chegar, vai ter festa. Vai ter panela no fogo, vai ter milho voando, vai ter manteiga borbulhando e nós três, rindo, babando e mastigando juntos. Porque aqui, pipoca é mais que comida. É um símbolo. Uma promessa.
