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Adeus, mel

Plásticos e iluminação artificial colocam em risco vida das abelhas

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Paulus Bakokebas - Foto Rafa Neddermeyer/ABr

Pesquisadores de diversas partes do mundo soam o alarme: dois fatores aparentemente distantes — os microplásticos e a iluminação artificial noturna — estão se somando às já conhecidas ameaças à sobrevivência das abelhas. Esses polinizadores, essenciais para o equilíbrio ambiental e a produção de alimentos, enfrentam um cenário cada vez mais adverso.

Estudos recentes demonstram que partículas microscópicas de plástico, presentes no solo, no ar e até na água, estão sendo ingeridas pelas abelhas de forma acidental. Ao coletar néctar e pólen, esses insetos acabam consumindo também microplásticos que se acumulam em suas estruturas digestivas, comprometendo seu metabolismo e a capacidade de navegação.

Segundo uma pesquisa publicada na revista Science of the Total Environment, colônias expostas a microplásticos apresentaram aumento da mortalidade, alterações comportamentais e menor eficiência na coleta de recursos. “É como se elas perdessem o GPS natural”, afirma a bióloga Mariana Figueiredo, especialista em ecotoxicologia.

O fim da noite
Outro vilão silencioso é a poluição luminosa. Em áreas urbanizadas, a luz artificial modifica o ciclo natural de atividade das abelhas, que são altamente sensíveis à variação de luminosidade. Isso interfere no ritmo de repouso, reduzindo sua longevidade e afetando o rendimento da polinização.

Além disso, a iluminação constante atrai predadores noturnos, desorienta abelhas que trabalham em turnos crepusculares e dificulta a comunicação entre os membros da colmeia. “A sincronia da colônia depende de sinais visuais e olfativos que ficam prejudicados com a presença de luz artificial intensa durante a noite”, explica o entomólogo Gustavo Rezende.

Impacto no ecossistema
A redução de populações de abelhas impacta diretamente a polinização de culturas como café, maçã, morango e amêndoas. Estima-se que mais de 70% das culturas alimentares dependem, em alguma medida, da polinização por insetos.

Organizações ambientais alertam que, sem ações efetivas, os danos podem ser irreversíveis. “O desaparecimento das abelhas não é apenas um problema ecológico. É um alerta para a segurança alimentar global”, diz Ana Paula Souza, da ONG Guardiões do Verde.

Possíveis soluções
Algumas medidas vêm sendo testadas para mitigar os efeitos desses fatores, como a instalação de sistemas de iluminação noturna com espectros menos agressivos, o uso de filtros nos pontos de coleta de água e iniciativas para reduzir o uso de plásticos descartáveis.

Pesquisas também avançam na identificação de espécies mais resistentes e na criação de habitats protegidos em áreas urbanas, como jardins polinizadores e telhados verdes.

Você sabia?
Uma abelha pode visitar até 5 mil flores em um único dia de trabalho!

A sobrevivência das abelhas depende de ações conjuntas entre ciência, políticas públicas e mudanças no estilo de vida urbano.

A luta por um futuro com menos plástico e menos luz também é, no fundo, uma luta por alimentos, biodiversidade e equilíbrio planetário.

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