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Mais um engano

PMs matam garçom após confundirem guarda-chuva

Publicado

Autor/Imagem:
Fábio Grellet

Um garçom de 26 anos foi morto com três tiros disparados por policiais militares enquanto aguardava a mulher e os dois filhos na favela Chapéu Mangueira, no Leme, zona sul do Rio de Janeiro, por volta das 19h30 desta segunda-feira, 17. À espera da sua família, ele segurava um guarda-chuva fechado e usava um “canguru “(acessório para carregar bebês junto ao peito) que, segundo familiares, policiais confundiram com um fuzil e um colete à prova de balas, levando-os a alvejá-lo.

Em nota, a Polícia Militar afirma que PMs em patrulhamento foram atacados e, ao revidar, atingiram a vítima.

Rodrigo Alexandre da Silva Serrano estava na Ladeira Ary Barroso, próximo ao Bar do David, aguardando a mulher, Thayssa Freitas, com quem era casado havia sete anos, e os dois filhos, um de 4 anos e outro de 7 meses. Eles tinham ido juntos ao mercado, e ela voltou de van com os filhos, enquanto ele foi a pé. Como a van passou antes no Morro da Babilônia, vizinho ao Chapéu Mangueira, Serrano chegou primeiro e parou no ponto em que a mulher e os filhos desembarcariam. Atingido no peito, no quadril e na perna, foi levado para o Hospital Miguel Couto, no Leblon, também na zona sul, mas chegou morto.

Após passar seis meses desempregado, desde 15 de agosto Serrano trabalhava como garçom em um restaurante em Ipanema, na zona sul, onde ficara até as 17 horas da segunda-feira. Quando a mulher e os filhos chegaram ao ponto, Serrano já havia sido baleado e levado ao hospital.

Segundo a viúva, que pediu para não ser identificada, no momento em que seu marido foi atingido a comunidade estava movimentada e “os policiais chegaram atirando”. Na van, ela chegou a ouvir os disparos que atingiram Serrano.

Outro homem que estava próximo do garçom também foi baleado pela PM, mas sobreviveu. Jonatas da Silva Rodrigues, de 21 anos, foi atingido de raspão nas costas, levado ao mesmo hospital e liberado ainda durante a madrugada.

Segundo a PM, uma guarnição do Grupamento Tático de Polícia de Proximidade (GTPP) foi atacada quando passava pela ladeira e revidou, atingindo as vítimas. Não há evidências de que os dois atingidos pelos tiros tenham disparado contra os policiais. Na nota, a PM afirmou que o garçom tinha anotações criminais por tráfico e roubo.

O caso foi registrado pela 12ª Delegacia de Polícia (Copacabana) como auto de resistência, quando há reação da vítima a uma abordagem policial. Por isso, a investigação não ficará a cargo da Delegacia de Homicídios da capital.

Protesto e apoio – Pela manhã, moradores da favela Chapéu Mangueira fizeram um protesto contra a ação policial na comunidade. O grupo caminhou da favela até a Avenida Princesa Isabel, limite entre os bairros do Leme e de Copacabana, e fizeram interdições periódicas na via.

À tarde, a viúva de Serrano e uma irmã dela se reuniram com deputados estaduais integrantes da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. Depois, Thayssa e a irmã foram à sede do Ministério Público Estadual. Até a noite desta terça-feira, 18, ontem não havia informações sobre o enterro de Serrano.

Furadeira – Em 19 de maio de 2010, o fiscal de supermercados Hélio Ribeiro, de 46 anos, instalava um toldo no terraço de casa, no Andaraí (zona norte), quando foi baleado pelo cabo do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) Leonardo Albarello, que confundiu a furadeira que Ribeiro manuseava com uma arma.

Atingido por um tiro de fuzil, o fiscal morreu imediatamente. O PM foi absolvido dois anos depois.

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