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Dói no bolso

Pobre paga o pato com disparada de preços

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Autor/Imagem:
Wellington Duarte/Via Diálogos do Sul

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, que considera a inflação oficial do país, é medido pelo IBGE entre os dias 1º e 30 de cada mês. O IPCA considera gastos como alimentação e bebidas; artigos de residência; comunicação; despesas pessoais; educação; habitação; saúde e cuidados pessoais. O indicador reflete o custo de vida de famílias com renda mensal de 1 a 40 salários mínimos.

Mas existe a inflação dos alimentos, que é a que afeta mais rapidamente a qualidade de vida das pessoas, especialmente as mais pobres. O fato é que houve um aumento forte dos preços do campo.

O arroz, com valorização de 19,2% no ano, e o óleo de soja, que subiu 18,6% no período. O famoso “prato feito” do povo ficou bem mais caro. O feijão preto subiu 28,9%; o tomate aumentou 12,8%; o frango, 6,9%; ovos, 7,1%; e a batata inglesa, 9,7%.

Antes de continuar é bom esclarecer que “inflação dos alimentos” não é inflação, embora a influencie.

E quem é o vilão? As grandes redes de comunicação se apressaram em apontar o dedo para alguns responsáveis por esse aumento: as exportações, porque os produtores rurais direcionaram seus produtos para o exterior, devido à desvalorização do Real, que beneficia o exportador; e o “auxílio emergencial”, porque o pobre passou a ter a possibilidade de comer.

Bem, sendo assim, basta valorizar o Real e diminuir esse ímpeto em comer, próprio de quem tem fome. Chega a ser patético que muitos aceitem essa explicação.

O bizarro presidente, que desmantelou todas as estruturas de abastecimento e fomento de cooperativas de pequenos agricultores, pediu aos agricultores que diminuíssem os preços.

Um dos exemplos mais sombrios foi o que aconteceu com o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), ponte entre a agricultura camponesa e aqueles que passam fome. Os recursos do programa estão em queda livre há anos. Se em 2012 o governo investiu R$ 1,2 bilhão no PAA, em 2019 o valor caiu para menos de um sexto, R$ 188 milhões.

Mas tem mais. O governo promoveu, de maneira criminosa, o esvaziamento dos estoques públicos de alimentos. Como?

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) entrou na mira das privatizações desde janeiro de 2019. Com a benção da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, o então presidente da Conab, Newton Araújo Silva Júnior, anunciou a desativação e venda de 27 armazéns, quase um terço do total em todo o país.

Sem política de alimentação, os preços dos alimentos disparam, muito em função do que já foi dito acima, mas também da especulação, ou seja, há um evidente processo de aproveitamento dos produtores para aumentarem suas margens de lucro. É o velho Capital se movimentando pela sua lógica, que é o lucro. Tudo dentro do padrão.

O problema é que os pobres, esse “estorvo” que o Capital precisa, quer comer e isso, num momento em que a ameaça de fome está presente, empurra o consumo. Bem, a melhor forma de deter esse consumo é reduzir a ajuda emergencial de R$ 600 para R$ 300. Comendo menos o pobre deixa de pressionar os preços dos alimentos.

Bem, o peso dos alimentos na cesta do cálculo de inflação do IPCA é de 23,1%, o que pode não pressionar a inflação para cima e para além do que os liberais de proveta temem, mas como percentuais não alimentam ninguém, é de se esperar que, sem uma ação do governo, os pobres continuarão a sofrer com esse cenário.

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