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Patriotada em festa

Polícia Federal espera por Jair para saber se está tudo jóinha

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto Reprodução

Faz tempo venho tentando começar uma narrativa sem falar de política, de Lula ou de Jair. Tento, tento, mas não consigo. Eles não me deixam ser mais cool, mais sereno, mais literário e menos visceral. Tudo culpa deles. Nesta quinta (30), por exemplo, é uma data historicamente folclórica. Depois de três meses fugindo, o mito está de volta. Para quê? Para fazer o que ele fez por 28 anos no Congresso Nacional e quatro na Presidência da República. O que mesmo? Alguém se lembra? Lembro-me de dois recordes fantásticos, incríveis e extraordinários: contribuiu diretamente para a morte de mais de 700 mil brasileiros durante a pandemia de Covid 19 e autorizou o desmatamento da Floresta Amazônica em níveis nunca vistos. E as mentiras? Estas ele terá de explicar a Xandão.

Deixa pra lá. Hoje é dia de festa para a patriotada. Êh, oô, vida de gado, povo marcado eh, povo infeliz. E põe infelicidade nisso. Fogem da ignorância, mas adoram viver perto dela. O fato é que, como um campeoníssimo da modalidade mitolímpica cuspe à distância, Jair Messias está de volta. Tentou carro aberto para desfilar sua cara de mau, mas o máximo que terá pela frente é a recepção de forma entusiasmada e quase emocional pelo sparring Valdemar Costa Neto, líder mínimo do Partido Liberal, o máximo do puxa-saquismo e atualmente uma das siglas mais conservadoramente apegada ao din din público. E, como diria o pastor Malafaia, líder da maioria, tudo em nome de Deus.

Mademoiselle Cocoia não dará as caras no aeroporto Juscelino Kubitschek, nome que ainda causa arrepios aos defensores do ódio. Ela optou por afofar o amado armado no cafofo alugado pelo tal Valdemar. Meu Deus, sempre ele. Como não suporto injustiça, registre-se que dom capetão terá recepção com pompa e ovação pelo segmento democrata cristão dos talibãs do Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul e cercanias de Jacarepaguá. Do aeroporto, a multidão (des)ordeira e despacita deverá seguir em uma luminosa e lacrada camburãociata direto para um ponto da cidade, onde montaram um pódio para sir Bolsonarô receber sua premiação.

Mesmo no degrau reservado aos segundos colocados, sua ex-alteza desesperada recebeu das mãos de Valdemar (novamente ele) o tão esperado prêmio: um novo pacote de joias gentilmente “doadas” pelo sheik Agadir III, emir dos Emirados da Tailândia, mistura semântica e carinhosa de Taguatinga com Ceilândia, as duas maiores cidades satélites do Distrito Federal. Novamente pergunto sobre o desejo soberbo de sua ex(celência) por um carro aberto. O que ele venceu para querer desfilar pelas ruas da cidade quase destruída por seus mambembes seguidores? Cuspe à distância não é esporte olímpico, tampouco político. É apenas anedótico. Mesmo assim, para quem já fez o povo rir. Com ele, a maioria do brasileiro só chorou. Somente as hienas conseguiam rir.

E riem até hoje. E rirão até a sentença de inelegibilidade do capetão. Xandão está com sangue nos olhos. Melhor deixar isto para depois. Hoje é só alegria. O capetão voltou! O capetão voltou! Voltou, mas, em Brasília, no Rio de Janeiro, ou na Gardênia Azul, terá de se resignar e passar a respirar como um mortal que também descansará sob sete palmos. Para quem pensava em um retorno triunfal, igual aos de 2018, o melzinho na chupeta virou uma talagada de 51, aquela que permanece uma boa ideia. Cacofonia à parte, o fato é que o triunfo deu-se em outubro de 2022. E deu-se ainda mais quando ele fugiu apavorado para a Flórida, nos Estados Unidos. Ah, alma minha, por que voltei agora? Eu lá tinha tudo, mas e a patroa? Eu amo ela…

Chega de cacófacos. Melhor a eufonia. Uma pena, mas nem aí o mito encontra sons agradáveis. O melhor prêmio ainda está por vir. De cara, terá de enfrentar a Polícia Federal. E agora, sem o crachá de presidente, terá de ser cara a cara. É o tal caso das joias das arábias. Mais uma vez, Jair e o faz tudo Mauro Cid, o tenente-coronel carregador de pastas, estarão isonomicamente lado a lado. Xandão é tema para o futuro. Eis a razão pela qual durmo com uma ideia e acordo com uma história pronta. Acho que tricoto durante a noite com a imaginação. Pode ser, mas, às vezes, nem chego a dormir. Foi o caso do folclórico mito tentando folclorizar seu retorno ao Brasil. Folclorizou e acabou folclorizado. Felizmente, o triunfo deu-se. Nada mais a declarar. Tudo jjónha, jóinha. Eita povo feliz. Ou não.

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