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Bolsominions a la carte

Político que defende político bandido rouba até raio de sol

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto Lula Marques/ABr

A Câmara manteve a prisão do deputado Chiquinho Brazão, suspeito até o último fio de cabelo de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Todavia, 129 parlamentares vinculados à máfia bolsonarista tentaram libertá-lo. Da mesma forma que entre o chiqueiro e o porco há o farelo, entre o burro e a charrete há o capim.

A comparação não é apenas metafórica. Atualmente, ela, infelizmente, serve para ilustrar a afirmação filosófica de que o voto não está mais entre o político nocivo e o eleitor descompromissado com seu próprio futuro. O que vale hoje é saber a quem os parlamentares eleitos por um bando de desocupados vão sacanear.

Este desabafo é especificamente contra os congressistas e eleitores que não estão nem aí para a pátria, para Deus e para a família que tanto dizem amar. Ou seja, para esse grupelho de chamados homens públicos não importa que o resultado da patifaria possa atingir o Brasil e seu povo.

Independentemente da forma como o ministro Alexandre de Moraes conduziu o processo que culminou na prisão de Chiquinho Brazão, votar a favor da liberação de um sujeito desse naipe é cagar na cabeça das pessoas de bem e dos trabalhadores honestos. É cuspir nas leis que eles mesmos criaram. Em suma, é comer do mesmo farelo do porco. Foi o que fizeram os deputados bolsonaristas.

Por isso, gostaria de ter sido o autor da frase “Todo político corrupto e antiético deveria ser enforcado em praça pública, para servir de exemplo”. Não sou, mas assino embaixo, acrescentando que, pior do que político desse nível, é o cidadão que o defende. Mais uma vez a ação desses vândalos da política brasileira me obriga a concordar com a máxima de Platão, para quem “o castigo dos bons que não fazem política é serem governados pelos maus”. Depois não aceitam ser xingados publicamente.

Pior ainda é não admitir que sejam motes diários para piadas de bom e de mau gosto. Uma delas remete à visita de um canibal até um restaurante nas imediações da Esplanada dos Ministérios. De posse do cardápio, leu: Jacaré no seco anda R$ 30,00, Filé de jumento au poivre R$ 35,00 e Fritada de político bolsominion R$ 250,00.

Diante de tal diferença, o pitoresco visitante indagou ao maitre sobre o preço do político extremista, simpatizante ou perseguidor dos eleitos democraticamente. “O senhor já viu o trabalho que dá para limpar um deles?”

O que não é piada, mas fato venéreo, é um eleitor sério, honrado e correto perguntar a outro com o mesmo pedigree qual o tempo verbal na frase “Eu procuro um desses políticos que verdadeiramente trabalham para o povo?” Antes que alguém pense por mim, eu mesmo respondo: tempo perdido.

É uma pena escrever sobre algo que se repete há décadas sem prescrever. Em outras palavras, entre ano e sai ano, a mediocridade e a nocividade de boa parte dos homens públicos não se altera. Pelo contrário. Aumenta como lama tóxica

Não devo generalizar, mas chegamos ao cúmulo de o anedotário popular incluir o político que se apresenta como honesto na lista dos contos de lendas, fadas e ficção científica. Lamentável do ponto de vista da inércia do eleitorado, não é nenhum exagero afirmar que 95% dos deputados e senadores com esse perfil desconhecem pelo menos 98% do que prega a Constituição Federal.

Sob o argumento de que as letrinhas são muito pequenas, eles decoram somente o que lhes interessa economicamente. Por exemplo, desafio alguém a duvidar da capacidade dos parlamentares desta e de outras legislaturas a respeito do entendimento das emendas a que têm direito na fase de elaboração do orçamento anual. Nisso eles são craques.

Portanto, mesmo após a aprovação da manutenção da prisão de Chiquinho Brazão, não devemos esconder que boa parte da CCJ e do plenário da Câmara entendeu que o deputado encarcerado é um homem íntegro, probo, honesto e incapaz de fazer mal a alguém. Então, não me resta outra saída que não seja afirmar que, ao contrário dos ladrões de banco, que precisam de bananas de dinamite para arrombar o cofre, os políticos malditos só precisam de eleitores bananas para continuar enchendo os bolsos e trabalhando contra o Brasil.

Para não ser injusto, tenho de registrar a existência de homens públicos desse quilate que trabalham distantes do Congresso. Quando um deles é surpreendido na praia, se antecipa à pergunta e poeticamente diz: Estou roubando raios de sol. Como veem, estão sempre trabalhando.

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