Esperneios sem resultado
Pré-loucos, viúvos choram mito que virou fantasma
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Época em que os pretendentes vêm e vão, o namoro é a fase em que tudo são flores. Nesse período, pessoas normais se transformam em heróis e, às vezes, em ídolos. Alguns temporariamente mais afortunados viram mitos do dia para a noite. Passado o tempo das descobertas do verdadeiro perfil, dos vícios, cacoetes, maledicências e mesmices, nasce o momento da descrença e das decepções, dos desapontamentos, das frustrações e, principalmente, dos desenganos. Esse é o estágio da queda das máscaras. Decorrente dessa era, surge o pior ciclo da vida: o da viuvez inesperada. Alguns têm certeza de que isso nunca ocorrerá. Por isso, as marcas de difícil cicatrização nos que acreditavam – e acreditam – que seu escolhido é insubstituível.
Mais comum do que se pensa, a dor da perda penetra de tal forma na alma que nem mesmo a Inteligência Artificial consegue mostrar aos piegas que há vida além da fábula. Um perdeu porque o outro ganhou. Simples assim. Todavia, pouco importa que a felicidade dos lamurientos tenha causado a infelicidade de pelo menos metade mais um dos 217 milhões de brasileiros. Os lacrimosos também não alcançam o fato de um passamento supostamente prematuro ter alegrado a metade mais um milhão da mesma nação. É esse vai e vem que dá sentido ou vigor à nossa existência. Normalmente os que recuam são os que alcançam. Dificilmente os que preferem a força ao diálogo e à espera vencem. É a lei da vida.
O fato é que o mundo não se acaba por conta da passagem de um mito artificial e que durou exatamente o tempo merecido. Nada além. Mais do que isso seria algo bem próximo do exagero. Talvez o caos. Para o bem da humanidade, ainda que antes do previsto, lendas viram fantasmas. É assim no universo da ficção, da utopia e do faz de conta. Como diz um versículo bíblico, “Ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu…” Portanto, resta somente o chororô aos que vivem em desacordo com as leis divinas e aos que não aceitam as recomendações dos homens na terra.
Vou além ao afirmar que, nesse início de nova quadra, não obstante o planeta virar de ponta cabeça, não adianta chorar. A viuvez é incômoda, dolorida e dolorosa. Um dia todos passaremos por isso, inclusive o vencedor e todos os que hoje pululam em favor do vitorioso. Felizmente, ninguém tem o dom do poder eterno. Por isso, a maioria sensata torce pela alternância. O problema é a insensatez dos viúvos. Esses parecem se achar mais poderosos do que o Poderoso. Certos de um poder que nunca tiveram, continuam acreditando que o caminho mais curto para recuperar o trono são os gritos, as saudações fascistas, os louvores satânicos e as ameaças contra a vida dos antagonistas.
Já se foi o tempo em que esse tipo de eco atingia a todo o país como verdade absoluta. Em 2025, o tempo só não é de bons propósitos para aqueles que acham que o tempo não mudou. A viuvez intolerante perdeu o espaço e a capacidade de separar a expectativa da realidade. Viuvez longa é sinônimo de pré-loucura decorrente da incapacidade de buscar caminhos menos tortuosos, consequentemente mais próximos da paz e da alegria duradouras. Assumir um luto exclusivamente por conta da magia e do brilho alheio é deixar de se entender com competência para lutar no futuro.
Para os pobres de espírito, às vezes o melhor é se esconder na falta de imaginação, de boas ideias e de interesse pelo bom funcionamento do país. É o mesmo que ser refém da escuridão e da mesquinharia ideológica. Quer queiram ou não, foi-se um personagem, mas o bloco permaneceu na rua e cada vez mais convencido de que pode ganhar o quarto carnaval com o enredo União e reconstrução. Resta aos viúvos e viúvas a infelicidade de perceber que 15 meses os separam do fim de um interminável calvário que eles mesmos criaram. Tudo indica que o calvário será prolongado. E não adianta esperneios. Até lá, que sejam fortes para aguentar o novo período de reconstrução que começou a ser traçado no Ano Novo de 2023. Eis o mistério da vida sem os horrores da morte.
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Sonja Tavares é Editora de Política de Notibras
