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Pim

Projeto inovador quer formar elite de moda da periferia

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Autor/Imagem:
Natália Guadagnucci

Favela, elite, universidade, inclusão, empreendedorismo e moda são um denominador comum de um projeto na Zona Sul de São Paulo, o Periferia Inventando Moda (Pim). Instalado em Paraisópolis, segunda maior favela paulistana com cerca de 100 mil habitantes, o Pim que há quatro anos oferece oficinas preparatórias para modelos, maquiadores e cabeleireiros, agora expande seus domínios.

Junto com a Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP e a Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Moda (Abepem), lança a UniPim, com uma programação de cursos gratuitos sobre mídias sociais, branding e fotografia com certificação da USP, além de painéis para debater temas relacionados ao mercado, uma conexão fundamental na estrutura do projeto.

Elite da periferia – “As pessoas ainda olham a favela com muito preconceito. O mercado de moda é muito fechado e disputadíssimo. Quebrar esses padrões é que é difícil”, diz o produtor cultural e psicólogo Nil Santos, co-fundador do projeto ao lado do estilista Alex Santos. “Só por morar na comunidade, as pessoas já vivem o estigma das drogas, da violência. A gente quer devolver a essência delas, mostrar que elas são capazes de ocupar um espaço que nunca pensaram poder ocupar”, completa Alex.

Desafiar convenções e o senso comum, um fundamento da cultura de moda, é um processo que acontece naturalmente no projeto. Um exemplo? “A moda deve ser elitista. O conceito de elite é que está equivocado”, afirma Nil. “Aqui, tento formar uma elite de moda da periferia. A elite no Brasil não vem do mérito, mas de apadrinhamento e dinheiro. Quero mostrar que isso não basta, que ser da elite significa fazer parte do grupo que está mais preparado, dos melhores”, explica.

Além da “elite”, outra visão bastante incomum (e interessante) é sobre assistencialismo, um conceito que não representa o trabalho que eles desenvolvem. “Não fazemos assistencialismo. Estamos no horizonte do empreendedorismo”, fala Nil. “Você capacita a pessoa para que ela consiga galgar posições no mercado em pé de igualdade [com quem está fora da periferia]”, pontua. Tem mais. “Nosso objetivo não é exaltar o ‘pobrismo’, a favela pela favela. A gente não ama a favela, quer sair da favela. A gente não cultua a pobreza. Só queremos mostrar o nosso melhor”.

“Boa vontade não basta” – No segundo semestre, Alex e Nil pretendem ampliar a programação de oficinas, incluindo aulas como as de criação de moda e visagismo. Os planos de expansão ainda enfrentam um desafio comum a projetos sociais no país: a falta de recursos.

Em busca de patrocínio, a dupla pretende lançar uma vaquinha virtual e se inscrever em editais para conseguir apoio da Prefeitura – que, por enquanto, restringe-se à liberação do espaço do CEU Paraisópolis para as aulas da UniPim. O trabalho voluntário de professores e o apoio de empresas, como o Grupo Leader e a Vult, tem dado fôlego ao orçamento do Pim, mas ainda não é suficiente.

“Boa vontade não basta. Quando você começa um projeto como este, vê muita boa vontade surgindo de todos os lados. Mas como traduzir isso em uma ação precisa, que vá fazer diferença? É preciso foco e trabalho duro, tanto da nossa parte quanto dos alunos. Sem dinheiro, tudo fica mais difícil”.

União e força – Os alunos endossam o coro. Para Beatriz Rocha, de 21 anos, a UniPIM revigora a ideia de que cada um tem sua própria essência. “A moda não deve ser algo que só quem é privilegiado edita”, diz ela, que participa da oficina de modelos há um ano.

Na oficina de modelos, ministrada pelo próprio Alex Santos, os ensinamentos vão além da postura na passarela e das poses para fotos. O estilista quer estimular discussões entre os alunos, levando temas relevantes e informação dos mais variados campos da moda para as aulas, que acontecem todos os domingos. “As agências [de modelos] ainda buscam um padrão. Aqui a gente aprende a valorizar as nossas diferenças. Não precisa ser alto, magro ou branco para ter espaço”, diz Alan Jesus, de 18 anos, que também frequenta a oficina.

“Em Paraisópolis, mexeu com um, mexeu com todos. A gente trouxe isso para o Pim. E assim estamos atingindo lugares que nem imaginávamos ser possível”, completa o criador Alex Santos. “A vida fica mais fácil quando a gente se ajuda”.

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