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Tiro no pé

PT racha após Lula dizer que o Hamas é um grupo terrorista

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José Seabra - Foto Ricardo Stuckert/ABr

Lula está prestes a enfrentar uma grave crise política em seu próprio partido. Dirigentes do PT e petistas que ocupam gabinetes na Esplanada dos Ministérios foram surpreendidos com a fala do presidente nesta quinta, 12, que classificou o Hamas de grupo terrorista.

Lula falou com o presidente da Israel, Isaac Herzog, a quem pediu um corredor humanitário para a saída de civis de Gaza. Mas, como o Estado judeu é parlamentarista, quem manda é o premiê ultraconservador direitista Benjamin Nethanyahu. E a ordem de Tel Aviv é deixar que dois milhões de palestinos morram de fome, sede e falta de medicamentos. Gaza está cercada e sem energia elétrica.

Depois do telefonema a Isaac Herzog, o presidente brasileiro fez uma postagem nas redes sociais, reiterando a posição do governo brasileiro de condenar os ataques promovidos pelo Hamas. Em nenhum momento ele aborda a carnificina que está sendo promovida por Israel.

Lula afirmou ter agradecido o apoio para a operação de retirada dos brasileiros de Israel, além de ter reiterado a condenação brasileira aos ataques promovidos pelo grupo Hamas, que o presidente classificou como atos terroristas.

No telefonema, Lula ‘agradeceu’ o apoio para a operação de retirada dos brasileiros que estão em Israel e desejam retornar ao Brasil. A FAB, sob ordem expressa do Planalto e do Itamaraty, está fazendo inúmeros voos resgatando um amontado de gente com bandeira verde e amarela, muitos deles supostamente envolvidos nos ataques, esses sim terroristas, aos três poderes da República em 8 de janeiro. Para quem está em Gaza, o Brasil está pedindo ajuda ao Egito, para fazer o resgate de ônibus até o Cairo.

Acompanho o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde a época em que ele era um sindicalista em ascensão. Com o passar do tempo, ele amadureceu. Tanto, que faz acordo até com o Centrão bolsonarista, em nome da governabilidade. Conselho, se fosse bom, não de dava, se vendia. Mas, como não sou judeu (há um velho ditado de que eles vendem a própria mãe, mas na hora da entrega, dão calote) faço apenas uma sugestão.

Presidente, coloque o Brics na balança. Veja para que lado penderá. Suponho que o peso de um dos pratos vai oscilar para a esquerda. Parceiros do Brics como Rússia e China, querem levar comida, água, remédio e restabelecer a energia elétrica aos extenuados moradores de um campo de concentração. E em seu telefonema, sequer tocou nesse assunto.

O Senhor, presidente, não é juiz. Não pode, portando, julgar o Hamas. O senhor é líder de uma grande nação. O fato de reafirmar a condenação brasileira “aos ataques terroristas” e prestar “a nossa solidariedade aos familiares das vítimas de Israel”, pode ter um custo muito alto. Ou não estão morrendo palestinos em Gaza, vítimas do terrorismo de Estado patrocinado por Israel?

Em nossa primeira conversa, presidente Lula, na antesala do então ministro Arnaldo Prieto, vi o brilho nos olhos de um defensor dos fracos e oprimidos. Suas pupilas hoje se mostram opacas, como as de uma pessoa cansada, talvez por conta da cirurgia nas pálpebras. E os de Putin e de Xi Jiping são mais resplandecentes do que a estrela na bandeira vermelha que o Senhor criou, e que, me parece, caminha para ser engolida por um universo realmente progressista.

Com uma Esplanada dos Ministérios miscigenada, esticar a corda é perigoso. Se o Senhor, presidente, quiser mesmo resolver os problemas dos brasileiros em Gaza, tente a missão impossível de falar diretamente com Netanyahu. Se, ao contrário, preferir colocar o carro na frente dos bois, corre o risco de ser atropelado pelos verdadeiros petistas. E o quarto mandato tão sonhado, e agora não tão bem merecido, vai virar um pesadelo.

Porque, além do vermelho da sua bandeira, no formato do triângulo da de Minas, onde se lê Libertas Quae Sera Tamem (ou, em nosso português tupiniquim, Liberdade Ainda que Tarde), os palestinos precisam da pátria que lhes foi tomada. Sua assessoria internacional, presidente, sabe disso de cor e salteado. Bata um papo com Celso Amorim e outros próceres da política externa. E pare de trocar as mãos pelos pés. Somos um país emergente. Os donos do Brics são potências. Pense nisso nos próximos telefonemas.

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