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Day after eleitoral

Quem planta Tião Macalé no Brasil jamais colhe Macunaíma

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior - Foto de Arquivo Amanda Perobeli/ABr

Escultor de ruínas, o ex-presidente Jair Messias, do qual poucos ainda lembram, passará dessa para melhor no dia seguinte à decretação de sua inelegibilidade, o que deverá ocorrer em breve. É claro que a “subida” é metafórica, mas será algo como um melancólico fim de quem nunca realmente esteve entre nós. Acho que nem entre os seus ele esteve. Azar de quem acreditou naquele monte de balela pré-2018. Pós também. Como diz um grande poeta contemporâneo, a maior desgraça de uma nação pobre e ainda carente de seriedade é que, em vez de produzir riquezas, produz mentirosos e ricos à custa das mazelas do país. Várias vezes ouvi do cidadão em questão que botaria a cara toda no fogo por alguns de seus ex-colaboradores, entre eles o então ministro da Educação, pastor Milton Ribeiro, denunciado por favorecer pastores evangélicos.

Como sei que político só dá a cara a tapa se souber que o eleitor é maneta, nunca me preocupei com o falatório do mito do fim do mundo, embora soubesse que onde há fumaça há fogo. Imaginava – e acertei – que o fogo era de palha. Nasci, cresci e aprendi que o homem não pode ser nada além do que pode ser. Os que tentaram se finaram. Também percebi cedo que quem nasceu para Vampeta jamais será Renato Gaúcho. No máximo, um Neymar pai. O pior é quando o brou se acha Zezé de Camargo e acredita que sabe e pode tudo. Vira jacaré antes mesmo de tomar vacina e de entender que querer não é poder.

Sei que Sinhozinho Malta e a Viúva Porcina não merecem mais citações fora do pasquim do Partido das Lágrimas (PL), legenda comandada pelo perigoso e aflito Valdemar Costa Neto. No entanto, ainda que sob pretexto do subconsciente, impossível não comparar. Logo após Emmanuel Macron, Luis Inácio III foi a Xi Jinping, o todo poderoso mandatário da China, com quem assinou dezenas de acordos pra lá de favoráveis à economia nacional. Na mesma viagem, Lula visitou os Emirados Árabes, sendo recebido pelo xeique Mohammed bin Zayed Al Nahyan, líder do terceiro maior parceiro econômico do Brasil. Não ganhou joias, mas trouxe na bagagem outras valorosas cooperações, principalmente no setor de inteligência artificial.

Antes, Lula da Silva havia se encontrado com titio Joe Biden, o mesmo que deixou a recepção a mister Mitô Bolsonarô por conta de seus estafetas. Para não ser injusto, vale registrar que, além dos democratas cristãos e quase santos Vladimir Putin (Rússia) e Viktor Mihály Orbán (Hungria), o capetão também participou de um encontro regado a bajulação familiar com Donald Trump, o amarelão que não é pato ou frango, mas acabou na panela fervente dos sérios representantes do Judiciário norte-americano. Será que veremos ocorrer o mesmo com seu dileto amigo tuipiniquim? Acho que sim. Na verdade, tenho quase certeza.

Difícil afirmar que chegamos aos céus com Lula. Todavia, sem nenhuma dúvida a cruz dos brasileiros ficou mais leve. Deixamos o inferno e estamos bem mais próximos do Éden, se é que ainda conseguiremos alcançá-lo politicamente. Dependendo da decisão do Tribunal Superior Eleitoral – e dele os aliados mais fanáticos e a turba do ódio só esperam o pior – o “day after” daquele que foi sem ter sido provavelmente não será dos mais nobres. Na verdade, talvez seja um fim terrivelmente fúnebre para o coveiro dos piores dias da pandemia de Covid.

Com merecimento questionável, pode lhe sobrar a benemerência do PL nas eleições municipais do próximo ano, quando ele, o mito destronado, poderá ser um disputado cabo eleitoral dos prefeitáveis. É triste, mas, como diz a turma séria do agronegócio, a colheita é proporcional ao plantio. Pois é, quem nasceu para Tião Macalé nunca chegará a Macunaíma. Que pena, mas o mito do Planalto acabou no Irajá. De Narciso e golpista em pessoa, acabou descobrindo que o melhor jeito de sair numa foto é sair da foto. Para ilustrar, lembro uma frase do pensador Saint-Clair Mello: “Em toda ditadura, os que têm a dita mole se sentem de oposição. Eis o mistério da vida.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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