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Esperneio antecipado

Radicalismo só enterra o Brasil, mas ideias e propostas salvam

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto Reprodução/Primavera Editorial

Embora com dois candidatos potenciais, ambos em campanha há meses ou anos (um defendendo o bem e o outro o mal), as eleições presidenciais deste ano lembram o samba de uma nota só. Ou seja, falta o básico: as proposições. Um deles elegeu o sistema eletrônico de votação como adversário de primeira, segunda e última hora. Parece até que a urna vota e, por isso, precisa ouvir alguns desaforos antes de ser atestada, lacrada, zerada, aberta e consolidada como principal responsável pela sua derrota (a dele) nas chamadas quatro linhas. Considerando o besteirol que tem produzido contra si, o outro deve estar procurando fórmulas menos nocivas para não vencer a eleição.

Enquanto isso, o povo, também conhecido como eleitor, está esperando a apresentação de ideias e propostas para definir sua escolha. Passados alguns meses do início do blá blá blá e faltando menos de 150 dias para que o Brasil tenha um novo (?) presidente, até hoje nada de positivo. Operante apenas as ameaças, os gritos, as maracutaias antecipadas e muito, muito lero lero. Entre Madre Teresa de Calcutá e o deus dos pecadores, talvez estejamos sentindo falta de um encantador de serpentes, daqueles que consiga industrializar a esperança e transforme nossas incertezas em caminhos menos tortuosos e floridos de realizações. Difícil, improvável, mas devemos continuar acreditando.

Desde que não sejamos golpeados, tudo é possível. Venha de onde vier, saia de onde sair, temos de torcer, temos de separar o joio do trigo. Não precisamos mais de anjos da guarda político, tampouco de salvadores da pátria. A necessidade é de um presidente que tenha expertise, conheça do riscado, entenda de governo, saiba pelo menos somar, diminuir, multiplicar e dividir com a devida rapidez e que deixe de pensar no próprio umbigo. A sociedade tem de ser o único objetivo. Poucos duvidam que a carência nacional é de líderes que pensem e trabalhem com a cabeça. As forças bruta, armada ou de vandalismos perderam o timing. Elas não cabem mais nas disputas políticas, notadamente nessa que se avizinha.

O país e o mundo, inclusive os que, em 2018, votaram nesse contra aquele, têm consciência de que o Brasil perdeu alguns de seus principais valores, entre eles o respeito às instituições, a defesa intransigente da democracia, a solidariedade, o patriotismo sem ufanismo e a vontade de educar seus “filhos”. O desejo dos que estão na berlinda do poder é trabalhar pelo quanto pior melhor. Conseguirão caso sigamos presos à tese de que extremos são diferentes na causa e no efeito. Pensemos assim e morreremos abraçados à cruz ou à espada. Talvez não tenhamos tempo sequer de proteger as partes pescoçoriais.

É verdade que estamos entregues às baratas, bem próximo do fundo do poço e abandonados no cenário internacional. Entretanto, não é de bom alvitre limitarmos o debate à direita ou à esquerda. Afinal, ainda não sabemos de fato o que é um ou outro extremo. Particularmente, tenho interesse em propostas. Melhor que elas surjam sem conflito, mas, se necessário, que se apresentem democraticamente. Extremismo é sinônimo de negativismo. Parafraseando um bordão que ficou célebre na boca do então ministro Walter Barelli, no governo Itamar Franco, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Todavia, não custa lembrar uma antiga lição de vida, cujo teor sugere certo distanciamento de pessoas negativas, pois, naturalmente, elas têm um problema para cada solução. E o Brasil de hoje carece de soluções concretas. Parto do pressuposto de que não há hipótese de golpe. Tudo bem que votar no candidato mais estridente e radical é como dançar com a irmã, isto é, não apetece. Então, peçamos a Deus para silenciar os discursos equivocados do postulante mais sóbrio e que ele esqueça, ainda que temporariamente, o radicalismo e a beligerância. Lembremos, pois, que Deus é Pai e que Santa Clara clareou. O resto é o esperneio de quem quer se antecipar à derrota.

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