Uma referência e uma imersão
Referência Reverente e Tributo, dois poemas da Edna Domenica
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Referência Reverente
O que tenho é o que desejo
E que melhor me enriquece.
Herdei dinheiros – conservei-os…
Tive amores – desfrutei-os.
“Mas no maior desespero”
“Rezei”, pedindo uma prece.
“Vi terras da minha terra.”
“Por outras terras andei.”
“Mas o que ficou” guardado
No meu olhar ensimesmado,
“Foram terras que inventei.”
Por gostar de alianças:
Só as troquei com Romeu:
Unidos e um filho feito,
Mas ainda trago no peito
A Julieta que fui eu.
Criou-me, desde eu menina
Pra empreendedora, meu pai.
Foi-se um dia em ataúde…
Fiz-me empreendedora? “Não pude!”
“Sou poeta menor, perdoai!”
Não faço versos de espera.
“Não faço porque não sei.”
Mas num torpedo/missiva
“Darei de bom grado” um viva
Pra vida pela qual sonhei!
Tributo
“Quando a indesejada das gentes chegar”,
Terei reunião contigo, poeta!
Que dia glorioso!
Pedirei licença aos grandes mestres:
tem lugar na etérea roda literária
para uma humilde amante das letras?
E só serei feliz se Manuel, o bardo, me disser:
– Podes entrar, Edna. Não precisas pedir licença.
Sim, quero encontrar a velha e gorda Irene.
Encontrar São Pedro, bonachão.
Vislumbrar Pasárgada,
ganhar um porquinho da Índia…
Enfim, falar contigo, Bandeira,
Estandarte da Literatura Brasileira.
……………………..
Edna Domenica – pesquisou técnicas para aplica em oficinas de escrita criativa e publicou em Aquecendo a produção na sala de aula (Nativa, 2001), De que são feitas as histórias (Postmix, 2014) e Relógio de Memórias (Postmix, 2017). É autora de A volta do Contador de Histórias (Nova Letra, 2011); Cora, coração (Nova Letra, 2011); No Ano do dragão (Postmix, 2012), As Marias de San Gennaro (Insular, 2019), O Setênio (Tão Livros, 2024). Sobre ser escritora declara: “escrever é uma empreitada existencial desafiadora […], uma tarefa árdua, um afeto prazeroso, um ato de cidadania”.