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Deus, aproveita a Lua Cheia

Rio de Janeiro do crime governalizado não é mais o Rio do povo

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Sonja Tavares - Foto Reprodução/Leonardo Sena

Quartel-general da contravenção, da milícia, do tráfico e da polícia organizada a favor do crime, o Rio de Janeiro realmente não é para amadores. Além de seis governadores, desde 2008 quatro ex-chefes da Polícia Civil do Estado já foram presos por envolvimento em algum tipo de crime. São eles Álvaro Lins, Ricardo Hallk, Allan Turnowski e Rivaldo Barbosa, este preso nesse domingo (24) suspeito de ser o mentor do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Não é nada, não é nada, é a esculhambação total e absoluta. E como fica a população? À mercê dos lordes da Polícia Militar.

Cômico não fosse trágico, nos últimos sete anos a triste estatística foi aprofundada com a prisão ou afastamento de seis governadores ou ex-governadores. O último a perder o mandato para o bem do serviço público foi Wilson Witzel. Antes dele, o gancho da lei havia alcançado Luiz Fernando Pezão, Sérgio Cabral, Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho e Moreira Franco. Dos que ainda estão vivos, Nilo Batista e Benedita da Silva, vice-governadores que ocuparam o cargo após a saída dos titulares, são os únicos que não respondem a processos judiciais. Como se vê, a desordem e a patifaria é de cima para baixo.

Em ebulição desde o governo de Leonel Brizola, o Rio de hoje só não é pior do que os Estados Unidos, notadamente Chicago, dos anos 20 e 30. Maior expoente da máfia americana no meio-oeste dos EUA, Alphonse Gabriel “Al” Capone aterrorizou os estadunidenses da época liderando um grupo de bandidos que geria diversas atividades criminosas, entre elas apostas, agiotagem, prostituição, sonegação e, principalmente, comércio e contrabando de bebidas durante a era da Lei Seca no país. Hoje, o “Scarface” (Cara de Cicatriz) norte-americano tem filhotes espalhados de Norte a Sul do Rio de Janeiro.

O povo permanece pagando regularmente seus impostos, mas no item segurança pública continua literalmente ao Deus dará. Aliás, Deus vem sendo obrigado a fazer hora extra diariamente para cuidar de tantas mazelas. Por isso, é lamentável, mas, para cariocas e fluminenses, a semana não será nada santa. Junto das chuvas fortes dos últimos dias, o alerta de perigo à vista está aceso noite e dia. E não é para menos. A preocupação é com relação ao comportamento dos milicianos da região da Gardênia Azul e Rio das Pedras depois da prisão de alguns de seus principais líderes.

No Rio de nossos dias, a frase latina Simius galhorum habitatum est (Cada macaco no seu galho) há muito perdeu o objeto. Por lá, policiais, traficantes, milicianos, bicheiros, matadores de aluguel, donas de bordel, determinadas lideranças evangélicas e batedores de carteira ocupam o mesmo galho, a mesma touceira, a mesma lama. E não adiantam rezas, ebós, ladainhas, novenas ou procissão, porque, até prova em contrário, os organizadores desses “eventos” também participam do esquemão.

Povo sofrido, esse. Depois querem exigir daqueles de miolo mole uma conduta ilibada e de acordo com as leis. Triste constatar, mas terra em que ninguém manda, todo mundo manda. Em resumo, onde falta o pão (moral e honestidade), a tendência é o desmoronamento do convívio social. Como os governantes, o secretariado e a polícia só pensam naquilo (em colher no pomar alheio), os gritos acabam se tornando inaudíveis. Felizmente, a população ordeira, trabalhadora e cumpridora de deveres ainda é maioria. Todavia, o Rio maravilhoso não é mais dela.

É ela que torce para que Deus desça novamente à terra e leve para os 100 graus Celsius dos quintos do Inferno todo esse pessoal que imagina o Rio como a Casa de Noca, aquela em que todo mundo manda e ninguém obedece. Como para bom entendedor, meia palavra basta, fica aqui minha torcida para que haja um cataclisma sobre a cabeça, o corpo e a alma de todos os que trabalham pelo fim do maravilhoso, pulsante e multicolorido Rio de Janeiro. Com toda sua sabedoria, Deus poderia começar a tocar fogo no parquinho da bandidagem nesta segunda (25), dia de Lua Cheia.

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