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Salvar o Brasil

Risada de bajulador é tão falsa que entristece até quem escuta

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto Reprodução das Redes Sociais

Originários do verbo transitivo direto bajular, o lisonjeio, o alisamento ou o puxa-saquismo são características de pessoas que acariciam o cavalo apenas para poder montá-lo. Às vezes, parecem plantas parasitas. Abraçam o tronco da árvore para melhor aproveitar e consumir. Embora desprovidos da capacidade de crescimento, são dignos dos que acolhem suas bajulações. Os bajuladores estão por toda parte. Fazem plantão nos palácios, nas ruas e até nas colunas de jornais e revistas. Nossa sorte é que normalmente eles escorregam na própria baba que produzem. Como não podem contrariar quem bajulam, raramente têm opinião própria.

Claro que há coisas bem piores, mas bajulador profissional deve ser uma das maiores tristezas da vida laboral. E sabem por quê? Porque ele sabe que nada do que faz tem valor. Nem mesmo sua forçada alegria agrada. O efeito sempre é temporário. Dizem os sábios que a risada do adulador é tão falsa que entristece quem a escuta. Nesse longo tempo de vida, convivi com especialistas do ramo. E todos com facetas variadas para agradar o superior. De um deles cheguei a ouvir uma frase que seria célebre não fosse cômica: “O puxa-saco é igual carvão: apagado ele te suja, aceso ele te queima”.

Como todo bajulador é falso e perigoso, aprendi a reagir no mesmo tom com cada um deles. E as oportunidades foram diversas. O problema é que poucos são os puxa-saco que não bajulam pensando em vantagens com o seu, o meu, o nosso rico dinheirinho. O exemplo mais caro desse tipo de personagem vem do Rio de Janeiro. Os cariocas elegeram um deputado federal que, quando está em Brasília, dá expediente no Palácio do Planalto. Não sei que apito ele toca, mas acredito que sua principal função seja posar ao lado do presidente da República. Provavelmente ele não sabe chegar sozinho ao gabinete da Câmara.

Não posso ser injusto e deixar de afirmar que também existem os bajuladores gratuitos. São aqueles que, imagino, têm orgasmos múltiplos só de sonhar com eventuais elogios do bajulado. Alguns não escondem o reacionarismo e dormem e acordam lamentando a viuvez da ditadura. Às vezes, mesmo acordados demonstram o desejo tirânico. Um desses, cujo nome me recuso a declinar, circulou fardado semana passada por um restaurante da capital da República. Nada contra, mas faz parte da boa conduta, principalmente a dos que se dizem do bem, ser mais discreto no radicalismo. Defenda o golpe, a ditadura, mas respeite quem preza pela democracia.

Sou um defensor das causas indígenas. Nem por isso me permito passear pela cidade cobrindo a nudez com uma folha de taioba ou trajando cocar, colares ou pulseiras de miçangas. Não é de bom alvitre gestos declaratórios de natureza grotesca. Na verdade, ridículos. Pois esse mesmo cidadão, que assina uma coluna no jornal Correio Braziliense (desconheço a periodicidade, pois normalmente não o leio), publicou na quarta-feira (18) uma crítica ao Supremo Tribunal Federal, particularmente aos ministros que compõem a Corte. Segundo ele, “o STF não é maior do que a Constituição, mas é maior do que os ministros que lá estão. O Supremo precisa ser salvo de quem o desgasta”.

Melhor não entrar no mérito, mas impossível não encerrar com mais uma expressão sobre bajuladores. “O problema não é lidar com o fulano explosivo. O problema é lidar com Judas, que não explode, mas abraça e beija”. Formador de opinião, o adorador do poder em questão poderia dirigir seu texto para o outro lado da Praça dos Três Poderes. Não me cabe defender o Supremo, tampouco seus ministros, mas se verdadeiramente há algo que precisa ser salvo de quem o desgasta é o Brasil. Se ele não se sente desgastado é porque, a exemplo de quem bajula, não está nem um pouco preocupado com o que está acontecendo no país do faz de conta, no qual o povo não tem sequer o direito de se chocar com as baboseiras produzidas diariamente por quem deveria.

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