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Olha a segunda onda...

Rosa insiste em eleição, sem medo da Covid

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Autor/Imagem:
Ka Ferriche

A ministra Rosa Weber, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, chegou à frente da Covid-19 e matou as esperanças de muitos políticos que estavam de olho nas eleições deste ano. Acreditavam eles que o vírus poderia infectar também o calendário que obrigava candidatos a deixarem cargos (desincompatibilizarem-se) até sábado, 4 de abril. E mais: a data foi limite para as filiações partidárias. O estrago foi grande.

O que mais chama a atenção, entretanto, é o efeito da decisão de Rosa Weber sobre o clã Bolsonaro. Quem apostou em adiamentos e alterações de prazos e datas, por conta da pandemia, perdeu tempo e a oportunidade de disputar as eleições municipais de 2020. Flavio senador e Carlos vereador, ambos Bolsonaro e eleitos pelo Rio de Janeiro, correram para o Republicanos, após o partido em construção pelo pai, Aliança pelo Brasil, não ter obtido até agora as assinaturas necessárias.

O presidente, mais habituado a percorrer diversos partidos políticos (já foi filiado a um terço dos existentes), recomendou que os dois fossem para a agremiação de Edir Macedo (tio de Marcelo Crivella). A mãe de seus meninos maluquinhos, Rogéria Bolsonaro, ex-vereadora pelo RJ, seguiu a receita e também já está no partido da Igreja Universal do Reino de Deus.

O partido nasceu de uma dissidência do PL – Partido Liberal, depois virou PMR – Partido Municipalista Renovador, que depois virou PRB – Partido Republicano Brasileiro, que agora virou Republicanos. Vai vendo.

Voltando ao início, o fundador do PL foi ninguém mais nem menos que o atual prefeito do Rio e chutador de santas, Marcelo Crivella. Jair presidente (sem partido) e Eduardo Bolsonaro, deputado federal (PSL-SP), têm mais prazo para definir suas legendas com foco nas eleições de 2022. Rosa Weber, dona do joystick eleitoral, fez um único movimento e obrigou a família Bolsonaro a voltar uma fase. Game over. O jogo se repete na família presidencial.

Entre os evangélicos, embora a Assembleia de Deus (dona do PSC) tenha maior alcance nacional em número de fieis e lojas, o resultado positivo nas urnas é proporcionalmente maior em favor dos Republicanos, que agora engordou sua bancada com mais um senador e um vereador de sobrenome ilustre.

Há quem afirme que Edir Macedo não é Luciano Bivar e que a sua estrutura – que inclui a Rede Record – é muito bem aparelhada, que ele não abre mão do comando da holding. Bivar e seu nanico PSL não tinham histórico de poder e Bolsonaro chutou sua bunda com a mesma desenvoltura que troca de ministros, chancelando o título de demolidor de biografias. Macedo, ao contrário, sempre foi base de governos eleitos – Lula, Dilma, Temer – e não vai aceitar picuinhas e meninices que venham macular seu império. Já tem problemas suficientes. Essa questão só poderá ser verificada quando ele perceber qualquer ameaça nas pesquisas aos seus objetivos. Não costuma abraçar afogados.

Enquanto Rosa Weber tem convicção de que a Covid-19 é apenas uma gripezinha de verão que vai passar logo, que o calendário eleitoral pode ser mantido, que os eleitores poderão circular aos milhões pelos municípios brasileiros, espirrando um na cara do outro sem conseqüências, prevalece a decisão da ministra – e sua profecia.

Imaginando que são dezenas de milhares de candidatos às prefeituras e Câmaras municipais, serão dezenas de milhares de ações inundando os tribunais com o argumento de que a Organização Mundial da Saúde, o ministro Mandetta e o estado de calamidade pública de Jair Bolsonaro, impediram o cumprimento dos prazos da lei eleitoral. Tem tudo para dar errado. E tem tudo para assistirmos a uma segunda onda do coronavírus.

O histórico e a dinâmica do vírus maldito não garantem que nosso ar e nossa gente estarão limpos até o fim do ano. Rosa Weber acredita nisso. Mas não esta só no planeta. Endossam o milagre Jair Bolsonaro e Donald Trump. Os concorrentes de Edir Macedo já nem escolhem com quem conversar. Vale tudo.

Enquanto em Brasília Jair Bolsonaro quer liberar o funcionamento dos estabelecimentos de Macedo (com a arrecadação prejudicada, assim como outros setores da indústria, comércio e serviços) e que garantem a proteção divina do presidente em passeios públicos sem máscara, no Vaticano aquele senhor argentino, que tem a simpatia daquela emissora de TV, recebe o chefe da maior quadrilha da história da humanidade. Aquele mesmo, antecessor do JB17 e do Covid-19, de letalidade incomparavelmente maior.

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