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Urso e dragão

Rússia pode mudar rumos da economia com experiência chinesa

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Autor/Imagem:
Daria Kazakova/Via Pátria Latina - Foto Reprodução

Será que a experiência do processo de modernização na China poderá ser aproveitada pela Rússia e uma chave de crescimento económico? “A Rússia implementou todas as regulações recomendadas pelas instituições financeiras de Washington e pela Comissão Económica Europeia.

está o resultado: a China cresceu cinco vezes em termos de PIB e nós crescemos ao mesmo ritmo dos EUA e da UE. Deslizámos do centro da economia mundial para a periferia das matérias-primas”, recordou Sergey Glaziev, da Academia Russa de Ciências, ao falar esta semana no IEF (Institute of Economic Forecasting of the Russian Academy of Sciences),

Uma sessão do Fórum Económico de Moscou realizado recentemente foi dedicada ao milagre económico chinês. Debateu-se ali, entre outros assuntos, se a Federação Russa tem população suficiente para adoptar a experiência chinesa e porque a economia da República Popular da China cresceu mais rápido do que todas as outras. Sem entender o segredo do auto-financiamento do milagre econômico chinês não poderemos entender como funciona.

“Através do ensaio e erro, encontraram na China a dose correta de uma economia planificada e de uma economia de mercado. Puseram em interação forças aparentemente incompatíveis sob o controle de uma estrutura efetiva chamada Partido Comunista”, disse Yury Tavrovsky, diretor do centro analítico do Clube Izborsk e vice-presidente da Sociedade de Amizade Russo-Chinesa no sítio do Fórum Económico de Moscou.

O moderador da sessão “China. Experiência de modernização para a Rússia”, explicou como via o “milagre chinês”. “Os chineses não impõem o seu modelo de modernização a ninguém, entendem as condições multivariadas em diferentes partes do mundo. Ao mesmo tempo, creem com razão que a sua experiência é digna de estudo e imitação”.

“A modernização chinesa desperta diferentes sentimentos. A recusa ao êxito dos chineses manifesta-se na compreensível inveja humana das pessoas comuns em diferentes países, mas também leva ao ódio a nível de política pública. Vemos o desejo dos Estados Unidos, se não de deter, de pelo menos travar a modernização chinesa”.

O economista Sergey Glazyev, da Academia Russa de Ciências sustentou na sua conferencia: “Gostaria de deter-me no que é universal nesta experiência. A China não deu um exemplo de como administrar a economia como também assentou as bases para uma nova ordem económica mundial. A China chama ao seu modelo de socialismo com características chinesas.

“De um ponto de vista gerencial, no modelo chinês pode-se destacar uma ideologia socialista que dá prioridade aos interesses públicos sobre os privados. Ao mesmo tempo, o país também utiliza o mecanismo da competição de mercado, que é responsável pela eficiência económica. Estes mecanismos estão regulados com base no objetivo principal: criar condições para melhorar o bem estar público”.

“Aquelas atividades privadas empresariais que contribuem para o crescimento do bem estar público são apoiadas de todas as formas possíveis, providas de empréstimos, inclusive a taxas de juro quase nulas, por um período de tempo quase infinito. Assim, aqueles que trabalham de maneira mais eficiente que outros e cumprem com os princípios de desenvolvimento económico recebem apoio estatal ilimitado na China. Isto cria condições para a cooperação de todos os grupos sociais em torno a um critério comum: a melhoria do bem estar social. Este sistema de gestão foi denominado estrutura económica integral”, explicou Glazyev.

O orador acrescentou que vários países asiáticos já estão a utilizar um mecanismo semelhante para a planificação estratégica e a competição no mercado. De acordo com estes princípios, as economias da Índia e Vietname estão a desenvolver-se hoje em dia.

“O modelo chinês é único no sentido de que se formou antes de todos os outros. E formou-se no momento em que, lamentavelmente, saltámos para a terapia de choque”, assinalou Glazyev. A Rússia implementou todas as regulações recomendadas pelas instituições financeiras de Washington e pela Comissão Económica Europeia. Aqui está o resultado: a China cresceu cinco vezes em termos de PIB e nós crescemos junto com o núcleo da ordem económica mundial, ao mesmo ritmo dos Estados Unidos e da União Europeia. Descemos do centro da economia mundial até a periferia das matérias-primas”.

“Após o colapso da URSS, o principal na estrutura económica mundial foi a globalização liberal. Para a nova economia mundial, os investimentos conjuntos e uma combinação de vantagens competitivos para garantir um desenvolvimento económico com êxito e mutuamente benéfico converteram-se numa prioridade. E esta nova ordem económica mundial, segundo Glazyev, será muito mais eficaz que a época anterior”.

“Os economistas sabem que a chave do crescimento económico é um maior investimento. A economia chinesa cresceu mais rápido porque as taxas de poupança são duas vezes mais altas. A taxa de acumulação atual é da ordem dos 20% do PIB. É quase impossível conseguir êxito com tais indicadores. Se o volume da economia cresceu cinco vezes, então o volume de empréstimos e investimentos na China aumentou sete vezes”, disse o académico.

A emissão de crédito dirigido na China levou a que o nível de monetização ali hoje é duas vezes superior ao dos países da UE e nos EUA. Ao criar as condições para o crescimento do investimento, as autoridades chinesas promoveram automaticamente o desenvolvimento da produção e da tecnologia. Segundo Glazyev, a implementação de tal modelo foi possível graças ao estudo das suas experiências anteriores.

A China considerou a experiência soviética com a emissão de dinheiro para empréstimos e investimentos, a experiência estado-unidense com a emissão de dinheiro para financiar o défice orçamental e a experiência europeia com a emissão de dinheiro para o redesconto de promissórias.

Hoje a política económica na Rússia, segundo o académico, é de natureza dissipativa e não se pode comparar com o que se passa na China.

“Nosso Banco Central dedicou-se à política monetária mais primitiva: imprimiu dinheiro para a compra de divisas de acordo com as recomendações do FMI. E agora, quando lhe furtaram suas reservas de divisas, o dólar retirou-se do mercado e a taxa de câmbio do rublo fortaleceu-se de imediato. Ao contrário quando o Banco Central deixou de controlar os mercados, essa política conduziu à desvalorização do rublo e funcionou no interesse dos especuladores financeiros – e o Banco Central escondeu-se por trás de uma expressão inventada e obsoleta: “controlar a inflação”.

Contudo, a Rússia pode mudar de rumo tomando como base a experiência chinesa. Sem compreender o segredo do auto-financiamento do milagre chinês não poderemos compreendê-lo, sustentou Glazyev. O Estado chinês é eficiente porque não há gente escolhida ao acaso no comando.

“Quanto à experiência da modernização chinesas, este é um tema delicado e requer um grande diálogo separado”, assinalou Andrey Denisov, vice-presidente do Comité de Assuntos Exteriores do Conselho da Federação. Como parte da discussão, dedicou o seu relatório à história do desenvolvimento da modernização da economia chinesa.
Para o orador, o próprio conceito de “modernização” entrou no léxico político chinês em fins da década de 1970. A plataforma ideológica para a modernização, acredita Denisov, é uma fórmula familiar para todos os que estudaram numa universidade na época soviética: a prática é o único critério da verdade.

“O primeiro ponto de referência quantitativo foi a fórmula chinesa para quadruplicar o produto interno bruto até o ano 2000 em comparação com 1980. Nesse momento, nenhum dos peritos internacionais em sinologia imaginou que isto pudesse alcançar-se”, disse o apresentador. Segundo Denisov, as soluções práticas na China primeiro provaram-se empiricamente e só a seguir, conforme o resultado, na realidade.

Na etapa final, implementaram-se dois objetivos estratégicos em grande escala: o alcançar da prosperidade e a eliminação da pobreza. “Se seguirmos a periodização tradicional chinesa da história e do progresso social, a seguir a uma prosperidade abre-se o caminho rumo à etapa superior do desenvolvimento social: uma grande harmonia. A China não está longe de uma grande harmonia”, concluiu o perito.

“A ideia de uma economia de mercado com planificação é considerada a chave do milagre económico da China. Tornou possível combinar a principal vantagem competitiva da China, a mão-de-obra barata, com tecnologias estrangeiras, investimentos, recursos naturais e o mercado”, sustentou Andrey Vinogradov, chefe do Centro de Investigação e Prognósticos Políticos do Instituto da China e Ásia Contemporânea. Sugeriu ele que o êxito da modernização chinesa está relacionado não só com decisões económicas como também com políticas: a seleção de funcionários, os sistemas de responsabilidade pessoal e o controle externo. “O Estado chinês é eficaz porque não há pessoas aleatórias que aparecem do nada e não vão a parte alguma”, assinalou Vinogradov.

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