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Hamas x Israel

Sangue jorra e Lula insiste que arma deve ser a pomba da paz

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Mathuzalém Júnior - Foto Reprodução/ABr

Por definição, os homens da guerra são nobres quando eles, voluntariamente, se põem em marcha em busca da paz. Apesar de ser o caminho da compreensão entre os homens, esse tipo de voluntarismo ainda é utópico. Certamente, não alcançarei, mas do plano superior quem sabe um dia aplaudirei a paz como o mais perfeito ato do ser humano. Por ser tão completo, tão pleno em si mesmo, por enquanto ele é o mais difícil. Ordeiro e pacifista por convicção, entendo a guerra como um crime, mesmo que ela seja necessária ou justificável. É o caso do conflito entre Israel e o Hamas. Para os palestinos, a ordem é inversa. Pouco importa. Importante é o quantitativo de pessoas inocentes que já morreram de um lado e de outro.

Em síntese, repito que é o massacre entre pessoas que não se conhecem para proveito daqueles que se conhecem, mas não se massacram. Está equivocado quem acha que Netanyahu vai exterminar os líderes fundamentalistas ou vice-versa. Os mandantes estão seguros em locais muito distantes do campo de batalha. É justamente esse o recado que o presidente Luiz Inácio está tentando passar ao tornar pública sua posição contra os insistentes bombardeios das poderosas Forças Armadas de Israel a prédios públicos e privados da Faixa de Gaza. Para cada soldado judeu ou militante do Hamas são mortos centenas de crianças, mulheres e idosos que nada têm a ver com briga religiosa. Por isso, o tom teve de ser alguns decibéis acima do esperado pela diplomacia.

Ao afirmar que Israel está agindo exatamente como o Hamas, cometendo vários atos de terrorismo ao não levar em conta que os inocentes não estão em guerra, Lula não se manifestou a favor dos fundamentalistas insanos. Então, por que incomodou o governo ultraconservador de Israel e os farofeiros metidos a golpistas ligados a Jair Messias? O presidente brasileiro não usou do artifício do antecessor, que sempre mentiu para agradar seus seguidores e financiadores e bajular mestres externos do horror. Embora desagradasse, Lula optou por dizer a verdade. É a verdade que dói, mas liberta. Às favas com os escrúpulos e que a verdade seja dita. Foi ela que libertou um Brasil feito de aparências, transformando-o em uma nação compartilhada por pessoas que torcem por uma nova história para suas vidas.

Acompanhando meus posicionamentos de vanguarda, também não acho que Luiz Inácio tenha exagerado no discurso ao receber, na Base Aérea de Brasília, os brasileiros repatriados da Faixa de Gaza. Apesar das insígnias de presidente da República, Lula estava ali muito mais como cidadão recebendo outros 32 patriotas. O que os críticos não disseram – e nem dirão – é que o mandatário fez o que tinha de fazer. Bancou a repatriação, peitou Netanyahu e seu festeiro embaixador bolsonarista e não teve medo de defender publicamente a criação do Estado da Palestina coexistindo com o Estado de Israel. Os mesmos críticos se recolheram à própria insignificância quando Bolsonaro manifestou apoio a Vladimir Putin na invasão da Ucrânia

Claramente, são dois pesos e duas medidas. Ou seja, admitindo a hipótese de que Lula falou demais, com certeza ele não fez de menos. Aportuguesando a ironia, sem medo de errar, duvido que, em outra época bem recente, a Força Aérea Brasileira se disporia a trabalhar como trabalhou para trazer de volta mais de 1.2 mil nacionais e 44 animais de estimação. O Bozo não permitiria, com medo de melindrar Donald Trump e Benjamin Netanyahu, seus principais superiores hierárquicos, religiosos, belicistas, emocionais e golpistas. Assim como o calor no planeta, o confronto no Oriente Médio está difícil de ser amenizado. Diria que, mais cinzento do que o terror do aquecimento global, o conflito Israel/Hamas está russo. De imediato, o termo russo nos transporta ao medieval Putin, que, a exemplo do Jair, quer ser o dono do pedaço.

Bozo e congêneres à parte, interessante é que a guerra entre o xiita Hamas e a insensatez de Bibi zerou a preocupação do mundo com a invasão da Ucrânia. Será que a guerra iniciada em fevereiro de 2022 acabou? Com certeza, não. E virão outras, outras e outras que esqueceremos por causa das outras. Afinal, se não houvesse a guerra, os homens não teriam motivo para fabricar armas e provar ao mundo o quanto são ignorantes. São os mesmos que, nos bastidores de qualquer embate, agem como covardes, se escondendo durante e depois da batalha ou dos golpes. Lula pelo menos não tem medo: botou pra torá. Concluindo, vale uma indagação: Qual a diferença entre as pessoas mortas pelo Hamas e pelos soldados de Israel? Até prova em contrário, são todas inocentes.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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