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Segundo turno em Brasília

São Pedro nocauteia Baco, expõe Ibaneis e dá mão a Leandro

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Autor/Imagem:
Preta Abreu - Foto de Arquivo

As chuvas que caíram esparsas em Brasília nos últimos dias, e que prometem ser intensas a partir de agora, fizeram aflorar neste início de estação primaveril verdades espinhosas que ameaçam o acalentado sonho de reeleição de Ibaneis Rocha (MDB). O caos em que vive o Distrito Federal é avalizado por pesquisas de diferentes institutos de opinião. O governador cai aos olhos do povo, e seu adversário direto, Leandro Grass (PV), desponta entre cumulonimbus, como se puxado fosse por São Pedro. Se queda Baco, atordoado. Enxurradas tomam as ruas, carros são arrastados pelas águas, casas invadidas pela lama. Prenuncia-se o fim de festa, dos bacanais, das orgias, das promessas vãs feitas com o nauseabundo aroma etílico.

O sentimento da necessária mudança cresce nesta reta final de campanha. Casa para quem não tem teto, emprego para quem quer trabalhar, escola para ensinar, creche para cuidar, terra para plantar, segurança para acalmar, saúde para tratar, ônibus para andar, direitos para quem não tem. Leandro, que encabeça na capital da República a Federação Brasil da Esperança, com o apoio de Lula, é categórico quando se dirige ao povo: “Esse desgoverno (de Ibaneis) já mostrou toda a sua incapacidade. Nossa cidade vive as consequência do descaso e da falta de planejamento. As obras não aguentam um dia de chuva e transformam o Distrito Federal no que estamos vendo hoje – um celeiro abandonado”.

O tom de Leandro Grass, candidato do PT, PV e PCdoB para assumir o Buriti, é o de quem sabe que Brasília caminha para uma eleição de governador em segundo turno. E a arrancada dele, que segue paralelamente à virada de Lula sobre Bolsonaro na cidade, surpreendeu o próprio Ibaneis Rocha, que já se considerava reeleito em primeiro turno. Declaradamente bolsonarista, o governador, embora seu partido, o MDB, tenha Simone Tebet como candidata palaciana, prefere jogar em time alheio. É como quem serve a Deus e a Mamon, lembra um eleitor. E isso, observa, não cheira bem.

O quadro que se desenha é animador para quem quer mudar Brasília. Há alguns dias as pesquisas internas de alguns candidatos já mostravam o crescimento de Leandro Grass, mas a revelação pública veio com a pesquisa do Idec, divulgada pela TV Globo no meio da semana. Ibaneis, que tinha 46% das intenções de voto em 6 de setembro, caiu para 40%. Leandro Grass subiu de 8% para 13%, sendo que em 15 de agosto tinha 4%. Leila Barros (PDT) manteve 9% e Paulo Octavio (PSD) caiu de 9% para 8%.

Ibaneis continua com grande vantagem, é verdade, mas agora com o risco de não vencer no primeiro turno, muito menos por W0, como previa. Tem 50% dos votos válidos, contra 50% dos demais candidatos. Já chegou a ter 57%. Diante do visível crescimento da campanha de Leandro Grass nas ruas, movido pela aguerrida militância dos partidos de esquerda, a probabilidade maior é de que as intenções de voto no oposicionista continuem subindo nos próximos dias.

Já Ibaneis, que antes aparecia praticamente sozinho na campanha, com a utilização da máquina do governo e visibilidade na mídia tradicional, tende a perder votos. As pesquisas mostram que muitos eleitores que antes optavam por ele, agiam assim por não ter alternativa, tipo luz no fim do túnel ou um clarão no horizonte. É justamente esse eleitor, respeitadas as pesquisas, que tem migrado para Leandro e, em menor escala, para os demais candidatos.

Esse fenômeno capaz de jogar água no chope dos outros, não é novo em Brasília. Repete-se, agora em 2022, porque o PT, que deixou de lançar candidato para apoiar Leandro Grass, é um partido “de chegada”. Em 1994, o azarão Cristovam Buarque disparou nas últimas semanas de campanha e foi para o segundo turno contra o considerado imbatível Valmir Campelo, apoiado pelo então governador Joaquim Roriz. Cristovam venceu no segundo turno. Em 2002, o petista Geraldo Magela também cresceu no final da campanha e surpreendeu Roriz, que esperava vencer no primeiro turno. No segundo turno, Roriz derrotou Magela por cinco mil votos. Em 2014, Rodrigo Rollemberg (PSB) também cresceu no final do primeiro turno e acabou derrotando Jofran Frejat no segundo turno.

Leandro Grass, em quem poucos acreditavam quando foi anunciada sua candidatura, parece que vai repetir a história. Ibaneis entrará com vantagem no segundo turno, mas como se diz, aí será outra eleição. E como o voto oposicionista é miscigenado, o caminho que leva ao Palácio do Buriti será regiamente pavimentado. Se der Lula contra Bolsonaro, então, serão favas contadas. Porque todo mundo sabe que é melhor ser amigo do rei, do que tentar lhe puxar o tapete.

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