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Efeito Brumadinho

Schvartsman não resiste a pressão e deixa a Vale

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Autor/Imagem:
Monica Scaramuzzo, Renata Batista e Leonardo Augusto

O presidente da Vale, Fabio Schvartsman, e mais três diretores da mineradora apresentaram neste sábado cartas ao Conselho de Administração da empresa solicitando o afastamento temporário do comando da companhia. O conselho se reuniu por teleconferência e aceitou os pedidos.

A decisão foi tomada por causa das pressões de integrantes da força-tarefa que investiga o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, que deixou 186 mortos e outras 122 pessoas que estão desaparecidas.

Um documento com o pedido de afastamento deles da direção da empresa, assinado por representantes do Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público Estadual de Minas Gerais (MPMG) e Polícia Federal foi entregue ainda na sexta-feira a advogados da empresa.

A força-tarefa pedia ainda que empregados não compartilhassem nenhuma informação profissional com as pessoas cuja saída da Vale foi recomendada. Também integram o grupo, além do presidente, o diretor executivo de ferrosos e carvão, Gerd Peter Poppinga, o diretor de planejamento, Lúcio Flavio Gallon Cavalli, e o diretor de operações do corredor sudeste, Silmar Magalhães Silva.

Na carta, Fabio Schvartsman afirma que “tomei a decisão, nesta hora, em benefício da continuidade das operações da companhia e do apoio às vítimas e suas famílias, de solicitar a esse Conselho, respeitosamente, que aceite o pedido de meu afastamento temporário das funções de diretor presidente da Vale”.

A pressão dos integrantes da força-tarefa foi motivada pela ação de executivos da empresa com empregados, o que estaria, segundo eles, atrapalhando as investigações. Além disso, a divulgação pela empresa do acordo para pagamento do auxílio emergencial para os atingidos como uma iniciativa da empresa causou forte desconforto. De acordo com o promotor de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), André Sperling, a empresa pretendia pagar o auxílio apenas aos moradores das duas localidades mais atingidas – Parque da Cachoeira e de Córrego do Feijão–, mas foi obrigada a estender a indenização para todos os moradores de Brumadinho.

“Não foi bem uma questão de aceitação da Vale. A Vale viu-se compelida a fazer isso. Ela queria (pagar para os moradores) Parque da Cachoeira e Córrego do Feijão”, disse o procurador.

Na carta de renúncia dos três diretores, que têm o mesmo advogado, um trecho do documento diz: “Estou convencido que nesse momento de polarização, o melhor que tenho a fazer, tanto para mim como para a Vale é solicitar o afastamento temporário de minhas funções, até que as autoridades concluam suas investigações e possam apurar, independentemente do meu cargo, de forma técnica, legal e imparcial, as causas e circunstâncias do rompimento da barragem”.

Com a saída do grupo, a Vale deve ser conduzida, temporariamente, pelos diretores remanescentes, sob o comando interino do diretor executivo de Metais Básicos, Eduardo Bartolomeo. Fontes ouvidas pelo Estadão/Broadcast dizem que não há nenhuma movimentação no mercado, nesse momento, em busca de um substituto.

A mudança definitiva só deve ocorrer em abril, após a Assembleia Geral Ordinária de acionistas, quando também são esperadas mudanças no conselho de administração, com a redução do peso da Previ, que hoje ocupa quatro assentos no conselho e o aumento da presença de conselheiros mais ligados ao setor de mineração.

Em nota, a Vale afirmou que “coopera permanentemente com as autoridades encarregadas da investigação, fornecendo absolutamente tudo que lhe é demandado para instruir os procedimentos investigatórios em curso, tendo seus executivos e funcionários se colocado à disposição voluntariamente para prestarem depoimentos com o firme objetivo de auxiliar no esclarecimento das causas do lamentável rompimento da Barragem de Feijão. As reportadas recomendações conjuntas da força-tarefa e Polícia Federal foram encaminhadas ao Conselho de Administração da companhia e serão analisadas oportunamente pelo colegiado, dentro do prazo estabelecido”.

Na última semana, com a perda do grau de investimento pela agência Moody’s, a situação da mineradora também começou a causar apreensão entre investidores brasileiros. Desde o acidente, analistas de casas estrangeiras observavam o descolamento das expectativas dos investidores domésticos, que pareciam mais otimistas.

Um segundo rebaixamento, que pode vir da S&P, pode obrigar muitos fundos estrangeiros a se desfazerem de suas posições em ações da empresa, pressionando negativamente o papel, que já perdeu cerca 25% de seu valor desde 25 de janeiro, quando aconteceu a tragédia.

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