Histórias que marcam
Segredo de padre é o que todo menino tem pavor de saber quando cresce
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Ainda menino de calça curta, suspensório e saqueira para arquivar a fimose do tipo lombricoide, “morria” de curiosidade para saber o que os padres escondiam debaixo da batina. Qual seria o segredo? Pragmático e de poucas palavras, meu pai se limitava a dizer que era o pincel. Mais arrojado, voluntarioso e sem meias palavras, meu avô paterno, Aristarco Pederneira, jurava que era uma brocha (tanto faz com x ou ch) jumbo retangular, com cabo ergonômico, monofilamento bicolor e ponta levemente entortada à esquerda.
Dizia o velho que aquelas com entortamento à direita poderiam ser escritas com X, pois derivam dos momentos de baixo astral, desistência, quebra de expectativa ou, como se diz hoje, paumolescência. Reivindicando rápida licença aos padres, razão maior desta narrativa, registro que, independentemente da época, os homens que broxam são os verdadeiros cavaleiros. O fato deles arriarem o pinto significa tão somente que estão a se abaixar perante a linda dama à sua frente.
Digo isso por experiência própria, pois nos últimos tempos pareço estar em sono eterno. Tenho me agachado com uma frequência acima da média. Para não passar recibo da brochura, arrumei um eufemismo pra lá de idiota para tentar justificar a crista baixa. Aos amigos, uso a desculpa da falta de tempo para libidinagens avulsas. Às amigas loucas que não permitem estranhos na roda, prefiro sofismar. Obviamente ilusório, meu argumento nem os sacerdotes mais sábios aceitam mais como confissão.
Voltando às partes de baixo da batina, como nunca tive coragem de perguntar ou de checar in loco, morrerei com a informação que me foi passada pelo capelão do batalhão em que sentei praça. Sentei no sentido figurado, é claro. Na verdade, desisti de ruminar sobre o assunto ao saber, por meio do sacristão, que o padre da paróquia do bairro (sempre ele) levava os meninos curiosos para o quartinho escuro e depois os premiava com um pão com mortadela Aurora e uma tubaína sabor laranja. No caso de dores, a receita era a mais comum: mastruz com leite quente. Tô fora. Ainda bem que não tenho isso nos meus anais. Cresci e nunca mais quis saber do segredo dos padres.
Quanto a história do capelão, o fato ocorrido se assucedeu durante uma viagem de um padre e de uma freira pelo deserto do Atacama. No meio da aventura sacra, o camelo no qual viajavam morreu. Diante do calor abrasador, não restou outra alternativa ao religioso casal: ambos tiraram as vestes e as usaram para produzir um abrigo contra o sol. Peladões, um se viu obrigado a ficar olhando para o outro. Cheio de elucubrações sacanas e libidinosas, o representante de Francisco fitou as partes da irmã e, rápido como um carcará, perguntou o que era aquilo. Como resposta ouviu que eram coisas mortas.
Cinco segundos de um silêncio sepulcral e a freira, apontando para o meio das pernas do clérigo, faz a mesma pergunta. “É um ressuscitador de coisas mortas, irmã”, responde o padre. Entusiasmada, a freira olha para o colega eclesiástico e arremata. “Seu padre, então, por favor, ressuscite o camelo. Eu sei que no Atacama não tem camelo, mas lhamas, alpacas, vicunhas e guanacos. Como a história é minha, se houver necessidade, ponho camelos até dentro da igreja. Minha última dúvida remonta ao tempo da brilhantina. O que pode resultar de uma sapecada de um padre em uma freira? Não vale dizer que é coroinha. Talvez um fiscal da Receita Federal ou um recolhedor de dízimos.
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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras
