Sem rumo
Sem presente, futuro do Brasil é coisa do passado
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O futuro chegou e a gente nem se deu conta de que ele deixou de ser um mistério. No campo da política, parece que não aprendemos nada com o passado, não aproveitamos o presente e esquecemos de sonhar com o futuro. Pior é a certeza de que não conseguiremos construir ou escrever o que um dia sonhamos para o futuro. Resultado de nossas escolhas, o que está por vir tem como indicativo dias ainda mais sombrios. Infelizmente, não existe máquina do tempo para que consigamos consertar nossos erros. Portanto, o que nos resta é conviver pacificamente com eles.
Em outras palavras, não conseguiremos prever o futuro porque, durante o presente, nunca tivemos tempo de estudar ou de dar ouvidos ao passado. Considerando que o futuro é uma construção alicerçada no passado e edificada no presente, o que podemos esperar dos políticos que “plantamos” ao longo das últimas décadas? A resposta é simples: a semente de hoje é o futuro do amanhã. Ninguém planta espinho esperando colher flores. Como dizia Millôr Fernandes, a vida começa quando a gente compreende que ela não dura muito.
Para o pensador Albert Camus, a vida é a soma das escolhas. Concordo, mas faltou dizer que, na política como bem público, o preço das escolhas erradas é muito caro. O problema maior é que ela normalmente atinge àqueles que supostamente escolheram certo. O mais complicado e mais atual é a dificuldade de se extrair uma lição de uma decisão errada. Ideologia à parte, provavelmente morremos com o erro por medo de reconhecer que o outro acertou. Poucos de nós têm coragem de atentar para isso. Os corajosos pelo menos sabem que a política não é corrupta. Corruptos são os políticos.
Por isso, desde o passado, reagem aos desonestos, de modo a tentar evitar que eles virem regra no futuro. Se lá atrás tivéssemos imaginado um Brasil plural, teríamos escolhido melhor desde que nos descobrimos como cidadãos. O tempo passou e levou com ele as numerosas oportunidades que tivemos de espantar as moscas varejeiras da direita e da esquerda que continuam infestando o país, no qual governar e legislar é a arte de errar à custa dos outros. No presente e no passado, os políticos erram e quem arca com as consequências somos nós. E continuarão errando no futuro, pois escolhas e políticas erradas são o epitáfio do Brasil.
Quando foi que escolhemos o certo? Juramos que elegemos o melhor até percebermos que, como o outro, o escolhido também optou pela política como meio de vida. E não adianta avaliar a corrupção como tumor maligno da política brasileira. Antes de qualquer análise, é necessário criticar a própria consciência, a única responsável pelas escolhas erradas. Se fazer de cego depois do erro é se orgulhar do eventual descaramento do escolhido. Bem mais do que no passado, no Brasil do presente os ricos exigem dos pobres, via PIX, ajuda financeira para financiar a defesa do estímulo a movimentos separatistas pautados pelo ódio e pela intolerância política.
Não sou de direita, de esquerda, muito menos de centro. Sou do Brasil. Por isso, me acho no direito de saber quem é o culpado pelo caos político que vivemos hoje e que viveremos amanhã. Quem? Todos os que dão carta branca para pessoas desconhecidas representá-los no recinto que deveria ser o templo das leis em benefício da população. Não é porque o povo brasileiro não acredita na força que tem. Se acreditasse, certamente concluiria que a diferença entre um ladrão e um político corrupto é que o primeiro não foi eleito por ninguém. Não tentamos no passado, esquecemos no presente e passaremos batidos no futuro da clássica tese de que de quatro em quatro anos, não importa onde estejamos, substituímos os corruptos declarados por declarados corruptos.
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Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras
