Um teto
Sem promessa de Lula, nordestino faz valer tradição e arte de taipa
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Num tempo em que o concreto corre contra o tempo e o vidro reluz nas fachadas modernas, há uma sabedoria silenciosa que se mantém firme nas paredes de terra batida. A taipa, essa técnica ancestral de construir com barro, madeira e mãos calejadas, resiste como quem sabe que a pressa é inimiga da permanência.
Nas vilas do interior, onde o tempo tem outro compasso, ainda se vêem casas de taipa eretas, como monumentos de um saber que não se aprendeu em faculdade, mas na observação da natureza e na repetição dos gestos dos mais velhos. É uma arquitetura que respira com a terra, que transpira com o clima, que se curva ao vento e aquece nas noites frias.
O barro, antes lama, ganha dignidade nas mãos do mestre de obras. Ele amassa, mistura palha, encaixa o esteio, molda com a paciência de quem sabe que ali, entre os dedos, vai muito mais que uma parede: vai memória, cultura, raiz.
Mas a taipa sofre. Sofre o preconceito da modernidade, o esquecimento dos planos urbanos, a indiferença das gerações que trocam o chão por asfalto. Ainda assim, persiste. Resiste. Existe.
Cada casa de taipa é um lembrete: a inovação não precisa apagar a tradição. E que talvez, em tempos de crise climática e buscas por sustentabilidade, seja o barro, tão humilde, quem ofereça a solução mais sábia — e mais antiga.
Quem dera todos soubessem ver beleza no que é simples. Quem dera o futuro coubesse na palma de uma mão suja de barro. Mas quem dera, principalmente, se Lula honrasse o compromisso de um teto para todos, através do Minha Casa, Minha Vida.
