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Assassinato na 415 (Final)

Solto, Marcelo lava corpo e alma em Tambaba

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Reprodução

Apesar de viver em um ambiente cheio de vaidade, o delegado Antônio Eduardo não era alguém enfeitiçado por esse pecado. Gilmar, por sua vez, era ainda mais discreto, sempre buscando aparecer o menos possível. Talvez por isso, os dois pensaram quase ao mesmo tempo em entrar em contato com o delegado Miranda, que havia sido o relator do inquérito que apurou o assassinato da esposa de Marcelo.

Coube ao delegado telefonar naquele mesmo instante para Miranda, que estranhou a ligação àquela hora da noite. Ele, que estava dormindo, pensou até em não atender quando viu que era Antônio Eduardo do outro lado da linha. Não eram necessariamente amigos, apesar da boa e sempre cordial relação. Atendeu!

Miranda, de tão eufórico que ficou com a informação, levou horas para voltar a pegar no sono. Marcaram para o dia seguinte na delegacia da Asa Norte. Ele telefonou para Pedro, Gustavo e Rafael convocando-os para a reunião extraordinária às 14 h. Em ponto!

Ninguém se atrasou para o encontro. Lá estavam todos os seis policiais. Depois dos cumprimentos, todos se sentaram. Antônio Eduardo e Gilmar, depois de mostrarem o vídeo onde apareciam claramente Marcelo e Susana
sendo arrastados, ficaram surpresos de que os colegas já supunham tal acontecimento.

Pedro se encarregou de contar toda a investigação feita por Marcelo, bem como a que ele próprio e Gustavo haviam feito. Rafael foi o primeiro a falar que agora eles tinham provas mais do que suficientes para inocentar Marcelo. Miranda e Antônio Eduardo concordaram com o escrivão.

Miranda, que tinha ótimo trâmite com o Ministério Público, marcou um encontro para aquele finalzinho de tarde. Com uma pasta cheia de provas e um vídeo revelador, não foi difícil o delegado convencer o promotor a pedir o
arquivamento da denúncia contra o agente de polícia Marcelo, que foi posto em liberdade no dia seguinte.

Vermelho e seus comparsas foram denunciados e tiveram as prisões preventivas decretadas. Quanto ao mandante, usando de toda a sua força política, conseguiu evitar ser preso por um tempo. No entanto, após alguns meses, também teve a prisão preventiva decretada, mas não foi encontrado. As buscas continuam e, dizem, Justus Dourado Flecha teria fugido para os Estados Unidos. Não se sabe ao certo se para Miami ou para Orlando.

Marcelo retornou ao trabalho no mês seguinte. Apesar de ter vivido naquele ambiente por mais de duas décadas, se sentia um estranho. Pedro e Gustavo, seus companheiros de tantos anos, perceberam que algo havia mudado no amigo. Mesmo assim, preferiram guardar para si aquele sentimento.

Em casa, o policial não conseguia se adaptar àquele apartamento. Susana não lhe saía da cabeça. Tanto é que ele nunca mais conseguiu dormir no mesmo quarto que dividiram por anos. Preferia se deitar no sofá da sala e, solitário, passar as noites sem fim. Nem Mariane, com quem voltara a se relacionar, conseguiu aplacar as feridas invisíveis que Marcelo carregava desde a virada do ano novo.

Aconteceu logo pela manhã depois de mais uma noite sem conseguir dormir. Sentado no sofá, as mãos segurando a cabeça envolta em um turbilhão de ideias, que Marcelo encontrou a solução ou, ao menos, o que ele imaginou ser o melhor caminho. E. antes que mudasse de ideia, telefonou para seus colegas de seção e marcou um encontro para dali a pouco.

Pedro e Gustavo estranharam aquela ligação pouco antes do amanhecer, mas aceitaram o convite sem pestanejar. Sabiam que o colega havia passado por momentos difíceis e, cismados, correram até o apartamento da 415 Norte.
Mal entraram, foram recebidos por Marcelo, que havia preparado um delicioso café gourmet.

– Muito bom!, elogiou Pedro.

– Obrigado! Fazer café foi uma das coisas que aprendi na prisão.

Marcelo contou aos amigos que iria se aposentar. Ele, com tempo de sobra, havia relutado por anos, talvez por medo do futuro. Agora, no entanto, ciente de que não tinha qualquer vocação para herói, queria ficar o mais longe possível daquele mundo de mocinhos, bandidos e tantos outros personagens.

Não demorou muito, sua aposentadoria foi publicada Diário Oficial do Distrito Federal. Vendeu o apartamento e viajou para João Pessoa, a aprazível capital da Paraíba. Gostou tanto do lugar, que decidiu ficar por uma boa
temporada.

Em pouco tempo, visitou Tambaba, a famosa praia de naturismo em Conde, município próximo. A princípio ficou receoso de tirar a roupa, mas, decidido, foi adiante. Marcelo queria não apenas se despir de suas vestes, mas
de toda aquela vida que havia deixado para trás.

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