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Fim a trevas

Tempo do mito acabou provocando luto antecipado

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Wenceslau Araújo - Foto Fábio Rodrigues Pozzbom

Se eu tivesse o poder de controlar o tempo, daria um jeito de janeiro ser logo amanhã. Por quê? Para Luiz Inácio tomar posse imediatamente e mostrar aos bolsonaristas arruaceiros e antidemocratas que o que está posto é imexível. Em outras palavras, contra um arsenal de práticas ilegais e criminosas e diante do abusivo uso do poder econômico, Lula da Silva obteve uma vitória inquestionável, acachapante e irreversível. E contra ela não há hipótese de retrocesso, nem mesmo a atuação da falange criminosa destinada a bloquear rodovias ou a formar “pelotões” em frente aos quartéis do Exército, Marinha e Aeronáutica. Não aceitar o resultado ou pedir intervenção militar é, ao mesmo tempo, sinônimo de desrespeito ao peso político de uma lenda e de luto antecipado pela partida de um mito que sequer esquentou o lugar.

Graças a Deus acima de todos, não posso controlar o tempo. Se pudesse, recuaria a 2018 e teria pelo menos tentado esconder a faca de Adélio Bispo de Oliveira. Melhor ser mortal e ter vivido para assistir ao desgoverno do pior presidente que o Brasil já teve. Mais do que isso, ter percebido rapidamente o que mais da metade do país descobriu tardiamente: um mandatário que não sabia o que era governar, não admite a derrota e, depois de consolidada a vitória do adversário, achou que ganharia no grito, agindo nos bastidores claramente a favor de um golpe. Estimulou as forças de segurança sob seu comando a atuarem fora das quatro linhas, desapareceu por dois dias, deu chá de cadeira de duas horas a ministros, na imprensa e na sociedade e, por fim, mentiu por dois intermináveis minutos.

Nada além do script traçado pelo agora presidente em exercício. Perdeu a eleição e demorou a se convencer de que seu tempo acabou. Com as desculpas esfarrapadas de “controle do comunismo”, tentou golpear a vitória de Lula da Silva. Entretanto, não teve o apoio que sempre imaginou ter. Ficou limitado às arruaças e badernas dos denominados bolsonaristas raiz. Como diriam os pensadores, os acomodados são ótimos em arranjar desculpas. E são as desculpas que perpetuam a mediocridade. Já os vencedores são os perdedores que tentaram mais uma vez. Os vitoriosos procuram soluções e, para encontrá-las, têm de tomar decisões rápidas e unilaterais. É o que está fazendo o grupo que, vencendo uma organização pra lá de suspeita, conquistou 60.345.999 votos. Acham pouco?

Diante da pressão maluca, grotesca, grosseira e odiosa, a esquerda criou coragem, perdeu a vergonha e contribuiu solenemente para eleger o líder Luiz Inácio. Hoje, seis dias após a conclusão da eleição, enquanto os cães ladram a caravana passa. E passa rápido. Previsto para começar em janeiro de 2023, o novo governo apresenta resultados concretos dois meses antes da posse. Por exemplo, Noruega  Alemanha anunciaram o retorno financeiro do Fundo da Amazônia. Estados Unidos, China e Rússia comunicaram a ampliação dos negócios e das parcerias com o Brasil. No dia seguinte à vitória, Lula foi convidado para participar, já como chefe de Estado, da 17ª. reunião de cúpula do G20, na Indonésia, e da Cúpula do Clima, a ser realizada no Egito. As duas reuniões estão marcadas para este mês de novembro.

Aos maus perdedores sobram os conselhos dos mais sábios. Presidente que derrotou a gangue armada de Donald Trump, o norte-americano Joe Biden se antecipou na quarta-feira (02) aos candidatos às eleições de meio mandato, principalmente aos que prometem contestar o resultado das urnas. Segundo Biden, negar resultados eleitorais é o caminho mais rápido para o caos. Pois foi exatamente isso que o clã Bolsonaro e seu entorno tentaram desde o primeiro dia de mandato. Apesar de um pouco mais sensato do que o mito, o general Hamilton Mourão, vice-presidente em exercício e senador eleito, pediu ao tenente presidente altivez na derrota.

O futuro senador talvez não tenha se apercebido que altivez ( arrogância, soberba, empáfia, presunção, imodéstia, convencimento e pomposidade, entre outros adjetivos) é o que Bolsonaro tem de sobra. Aliás, a proximidade da Copa do Mundo do Catar me obriga a, mais uma vez, voltar no tempo e, simultaneamente, me antecipar aos acontecimentos. Caso Jair Messias tivesse sido reeleito, certamente o comando bolsonarista já estaria se preparando para, no caso de derrota do selecionado brasileiro, bloquear rodovias em torno do planeta até que a Fifa entregasse a taça para nosotros.

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