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Cagaço geral

Tensão e o pânico chegaram às melhores famílias bolsonaristas

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior - Foto de Arquivo/Marcelo Camargo-ABr

Antes valentões, raivosos, mitológicos, machos, imbrocháveis, poderosos, insubstituíveis, o tudo, inclusive honestos, hoje os patriotas antidemocratas estão enjaulados, encurralados, cingidos, circunvalados, confinados, literalmente debaixo da saia das mães. Sem o cobertor do fujão do Cerrado, a maioria está encagaçada diante da possibilidade de ser presa. São as voltas do mundo. Medrosos como aqueles que se escondem atrás de coturnos mal cheirosos, a patriotada verde e amarelo de 2022 é a mesma que, em 2023, fugia de quem tinha coragem. Lembram os machões que avaliam as mulheres como seres frágeis e sem defesa, mas saem em disparada quando percebem que o esmalte está secando.

A tensão e o pânico chegaram às casas, escritórios, comércios, indústrias, plantações e casas de lenocínio financiadas ou frequentadas por golpistas. Deu a louca na cabeça dos arruaceiros, cuja bravura e fogo no rabicó viraram um apavoramento que só tem limite com o fio terra de alta tensão. Didatizando a narrativa, não aguentaram o trampo. Romance de estação, Jair de Curicica pede socorro aos aliados, mas não é mais ouvido. Certos de que produziram um fato que passará para a história, os terroristas agora escancaram a tese de que a proposta de golpe foi articulada dentro dos palácios do Planalto e da Alvorada. Tudo indica que, finalmente, eles perceberam que a má fama adquirida é culpa exclusiva dos próprios.

Com algumas dúvidas, começo a me dar conta de que a turma está se conscientizando sobre uma máxima que a Polícia Federal certamente digeriu há pelo menos cinco meses e meio: antes mesmo de junho chegar, a quadrilha já estava dançando. Até os ratos de esgoto do Distrito Federal têm certeza de que, auxiliado pelo ex-ministro Anderson Torres e mais um monte de bajuladores abestados, Jair Messias tentou de tudo para impedir a posse de Luiz Inácio em janeiro. Durante meses, a ministrada e os colaboradores aloprados buscaram todos os caminhos possíveis para melar a vitória do petismo. Dentro e fora das quatro linhas, deram com os burros n’água.

Agora, sem argumentos plausíveis sobre honestidade e com a inelegibilidade batendo às portas do clã Bolsonaro, resta aos seguidores das farofentas loucuras do mito aguardar o tamanho do rombo na nau do Capetão. A tendência é de que os buracos sejam grandes, enormes. O jogo sujo acabou por limpar uma biografia que fazia tempo estava comprometida por temas nada republicanos. O esfarrapado aprontou tantas contra o roto que vai encerrar a carreira mais esmolambado do que o andrajoso sonho de esfrangalhar com a Constituição. Se achando célebre, notável, quase um deus, o mito imaginou o Planalto como seu Olimpo. Talvez ganhe algo menos pomposo e com o qual ele não contava.

Não será bem um paraíso, um latíbulo, tampouco um lugar feliz para onde vão os bem-aventurados. Quem sabe lhes sobre um ergástulo, uma enxovia, um recolhimento forçado, um abrigo oculto com paredes rebocadas, camas de alvenaria, pijamas listrados e cânticos gregorianos todas as manhãs. Antecipadamente, sugiro como leitura de cabeceira algumas obras com indicativos claros de superação, entre elas “Eu desisto”, “De dentro para fora”, “Tempos difíceis”, “Removendo máscaras”, “Humilhado” e “O júri”. Se preferirem, tenho também “Alternativas à prisão” e “O refúgio secreto”. São todos recomendados para dias intermináveis e noites mal dormidas, em decorrência do rabicó colado na parede para não correr riscos de que sejam estrupiados.

A lista de aliados para o valhacouto, também conhecido por receptáculo de foras da lei, é longa. A tendência é que, em poucos meses, ela cresça bem acima das expectativas daquele povo que chegou a achar que estava por cima da carne seca. O ex-presidente Fernando Collor de Mello, velho conhecido das páginas policiais, foi o último a chegar. O mundo dá volta. O céu e o inferno são aqui mesmo na terra. “A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu e a noite esfriou”. “E agora, manés?” Dos palácios dourados, restaram as camas de alvenaria e eventuais sussurros no pé do ouvido. Coisas que só valentões, machões e patriotas endiabrados aguentam.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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