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Banana e maquiagem

Thaís Riedel pode se engasgar com salada de frutas azedas

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Autor/Imagem:
Pontes de Miranda Neto II - Foto Reprodução

A chapa da doutora Thaís Riedel que concorre à cadeira do doutor Délio Lins e Silva Jr (candidato à reeleição) na seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, começa a se engasgar nesta quase reta final da campanha.

Não bastasse ter entre suas apoiadoras e apoiadores uma advogada que virou ré por ofensas racistas a uma colega de profissão, Thaís Riedel se vê às voltas com outro igual ou mais grave problema: a suposta maquiagem de advogados brancos em sua chapa, que estariam se passando por pretos e pardos.

Um dos problemas que mais se comenta em grupos de advogados é o racismo estrutural. E nesta segunda-feira, 8, a Comissão Eleitoral julgará pedidos de impugnação se não de toda a chapa, ao menos de integrantes do grupo liderado por Thaís Riedel.

O julgamento interessa muito ao Movimento Negro (composto inclusive por centenas de advogados) não apenas de Brasília, como de resto de todo o Brasil. E se a fraude – expressão usada pelos denunciantes – for comprovada, Thaís, verde que é, comentam seus desafetos, ficará vermelha como uma pimenta e cairá do palco sucessório.

Afinal, a OAB é uma instituição que reúne profissionais conhecidos e respeitados como defensores dos direitos ofendidos, detentores dos segredos invioláveis, intérpretes das desventuras e angústias, e guardiões dos interesses sociais, como bem lembram as mais brilhantes figuras da magistratura..

Nunca é demais lembrar que foram anos de luta para que as cotas fossem garantidas para negros, pardos, índios… Principalmente nas faculdades que formam o advogados. O primeiro exemplo0 veio de Brasília. E é justamente durante a sucessão na OAB da capital da República que reside, hoje, o maior problema de perseguição aos negros.

Não precisa ser togado para considerar inaceitável que uma candidata à presidência da OAB-DF tente burlar um instrumento de reparação do povo Negro para tentar atingir os seus objetivos. Ou Thaís dirá em sua defesa que desconhecia a raça dos membros da sua chapa?.

Advogados e magistrados que orbitam em todas a áreas do Direito consideram que o grupo de Thaís Riedel, a confirmar-se a suposta farsa, não tem nenhum compromisso com a luta contra o racismo. Isso estaria evidente na pseuda ‘maquiagem’. Há inclusive quem use um tom mais agressivo, sugerindo que há um desejo de supremacia branca na OAB, o que poderia levar à criação de um novo Tribunal de Nuremberg. Não por crime de guerra ou eleitoral, mas de extermínio de uma raça.

Também há quem rejeite a ideia de impugnação de toda a chapa, mas defende como fundamental, de forma enfática, que a verde chapa 61 amadureça, abrace uma boa ideia e reconheça que errou. O passo seguinte seria um pedido formal e público de desculpas para a advocacia e para a sociedade do Distrito Federal.

A retratação com a Comunidade Negra, que recebeu a solidariedade de brancos de verdade, seria seguida pela substituição dos ‘brancos’ impugnados por pretos de pele, de sangue no coração que transitam no Judiciário com a mesma desenvoltura e respeito daqueles de nariz empinado que sequer olham para o próprio umbigo.

Apesar de todo o estrago feito, ainda há tempo de Thaís Riedel tentar consertar a suposta fraude, mesmo sabendo que não resgatará os milhares de votos que perdeu. Mas mostrará um lado da mea culpa que pode servir para as eleições que se realizarão após o próximo triênio.

Apartheid e segregação social não combinam com o Brasil, muito menos com os profissionais que pregam justiça. Racismo é crime; fraude é crime. Mas todo crime, paga a pena, cria novos horizontes.

O erro da chapa Verde 61 é gravíssimo. Há jurisprudência a respeito em cortes superiores. Neste momento, não há espaço para vícios de ações que mofam nos labirintos de Têmis. A expectativa é a de que o julgamento da noite desta segunda, 8, sirva de exemplo para atestar que existe a justiça social das cotas e que o dano da segregação racial seja reparado.

A Comissão Eleitoral, órgão oficial para o julgamento das chapas, deve agir, como em outras oportunidades, com imparcialidade e lisura. Mesmo porque, repita-se, seus representantes são conhecedores do Direito. E quando receberam as suas carteiras da OAB, fizeram um juramento.

Deve vir punição. E por mais branda que seja, Thaís se engasgará com uma salada azeda de abacaxi com banana.

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